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Uniforme, somente o apetite ávido por escrever: parte de mim quer a morte... Parte de mim quer o "nós"... Parte de mim quer acusar. Parte de mim quer apenas deitar-se. Não precisa procurar a afinidade dos pontos - não há. Minha escrita amordaçada, atada ao fato dos fatos, quer o antigo, o perene, e não o breve dos momentos, da inconstância de viver; quer o doer; quer sevícias; quer a morte, quer matar... Quer matar mas está morta. Demasiada morta e estafada para matar. Tranca-se em uma perrice obstinada: criança que não sabe perder e não tem o que quer (quer ser causa de óbito, quer o cheiro de éter, quer o medo da solidão, quer a noite lúgubre, quer mortificar um coração em uma despedida). Criança velha, porém, que lamenta a infância perdida, a juventude instintiva e sempre bem disposta à barbarias. Devaneios e fantasias desgastados, dramas fatigados que em pleno leito de morte nada têm a dizer: não há últimas palavras. Catástrofe sem graça habituar-se à realidade. Cat
Que névoa é essa que cobre teus olhos, Torpe, muda, vaga , suja ? Que névoa é essa que cobre teus sonhos ? E se sonhos existem, por que os tortura ? O que tens exatamente em mãos, E uma vez apercebido, Abate cínico com força, vil aluição, Abate, buscando o extinto, Qualquer um que o tenha como desconhecido, Pra doer qualquer justificativa. Uma felicidade derivada de mentiras Naturalmente está fadada à agonia. Como se ferir outrem curasse feridas... E, de prazer, não bastasse já a vida, Busca ser, na solidão que desatina, Diferente do ser humano e sua sina. Só lamento, só lamento, tua hipocrisia, Só lamento, tua vida tão vazia... ( Tua falha inevitável )

Throw Me A Rope - KT Tunstall

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I want you between me and this feeling I get when I miss you But everything here is telling me I should be fine So why is it so, it bothers below that I'm missing you every time? I got used to you whispering things to me into the evening We followed the sun and it's colours and left this worl It seems to me that I'm definately, hearing the best that I've heard. So throw me a rope to hold me in place Show me a clock for counting my days, down Cuz everything's easier when you're beside me, Come back and find me, Cuz I feel alone... And whenever you go it's like holding my breath under water I have to admit that I kinda like it when I do Oh, but I got to be, unconditionally, Unafraid of my days without you So throw me a rope to hold me in place Show me a clock for counting my days, down Cuz everything's easier when you're beside me, Come back and find me Whenever I'm falling, you're always behind me, Come back and find
Much to change, but I can't bet where I should begin once we made it a million times and we get worst the more we try... Is it safe to stay ? Is it safe to believe what you say ? Once you already sounded too true to doubt, or was I too blind to turn around. The case is that I'm timorous To take one step without you, But frightened by your scenario - It's not like this I want to pursue. I still smelling your perfume, a sad story that I should have presume, wondering if she'll ever notice... Wondering if she'd have a choice. I hope that you find at least one truly song to the violin, so that I finaly might forget the noise of this sin, this sin... Not speaking for me: the girl's broken heart is just what I mean. Can't anybody say if it will ever be the same, someday ?
Aqui, estás a partir outra vez. Quanto tempo até teu regresso ? Não me cabe descrever este coração, com seu fadário enlutado, cujos olhos pendem... Cansados, noite após noite, permitindo-se desabar sobre sonhos em que tu já chegaste. Compete-me, porém, amar o regozijo do teu aproximar, de abraçar-te e ter contíguo teu sorriso... Outrossim, de memorar-te e de esperar-te - apesar do dissabor que traz a efetiva acepção de fazê-los, o que quer que parta de ti não vem nunca carecido de doçura ou de meu bem querer. Observo-o a roubar-me as palavras: este âmago sempre delas tão possessor, cala-se repentino para ouvir-te presentear-me com dizeres tão mais... Tão mais... Aptos a fazer-me... Tresfolegar... E por que ? Por que fico a olhar-te ? Amo-te tanto e quero-te com um querer tão devoto, tão admirado... Fico a olhar-te assim, enquanto posso, contemplando como nada que parte de ti é, singelamente, menos do que lindo; tua discreta perfeição. Após a noite, afinal, estes olhos entusiastas abrem
I get the miles to be counted (Where did you go ?) And stand up to everything it may amount, How does it fit in my tight baby soul ? From the first morning, I was supposed to know: I haven't slept, so my dreams might be truth; I haven't slept, so it's fair for me to blame you. Oddments may speak better Once I'm not here entirely anymore. Absence renders me, gray to bitter, Growing, by wishing him indoor...
Cingidor de dissabores, da distância, do meu tempo, cingidor dos meus amores, da constância de meu alento; Diga-me, que outra escolha eu tenho ? Um "eu te amo" singelo e eu juro que me rendo. Preciso que me abrace, do seu ente ante ao meu, encontrar uma rima ao verso que já se deu. Preciso que me abrace e não se deixe mais soltar, Eu preciso, todos os dias, de um "eu te amo" elementar.
   A nós. À vida nossa. À imensidão do que sentimos. À alvura do riso vindo com o singelo pensar. À saudade. Ao conforto de querer bem.    À melodia doce, cantando o sol num dia de chuva, cantando o dia numa noite de plangor; ao reerguer-se com o peito inflamado, orgulhoso do que é, de onde está; ao firme enlaçar de mãos; à jura sincera de afeto perene; ao companheirismo substituindo a resignação - todavia, à paciência; à mudez de momentos esmerados; aos abraços intermináveis - aos braços sem começo ou fim... A nós, ao infinito de quem somos, enfim.    Invariavelmente... Apaixonadas. Eu já matei você mil vezes e seu amor ainda me vem. Então me diga, quantas vidas você tem ?
   Pequenina, simples ânsia; desejo de respirar, vontade acanhada de respirar, tenção quase inexistente de respirar. Fraco, débil intento de apreciar, percorrendo-lhe intimamente, ar... Infinitamente, ar . Cerrar os olhos e inspirar, saciar as entranhas, entorpecê-las com o que quer que haja neste ar. Silenciosamente, a atear-se nas paredes do âmago; aumentando, oferecendo-se, mostrando-se, conquanto ainda quase indistintamente, o querer unir-se ao invisível e respirar. Esquivando-se de percalços advindos de receios, alojando-se em cada porção, existindo. Existindo, enfim ! Alimentando-se habilmente de seus próprios passos; fazendo cada parte estremecer para querer, admitir a pretensão de findar o que era modesto apetite. Atracar-se ao desejável ar, deixar-se conduzir pelo venerável ar, conhecer de onde vem o entorpecer-se, o respirar -se . Crescendo, tornando-se maior e maior e tangível e enérgico e não enquadrando-se mais à mudez, não enquadrando-se mais à paz de ser pequena, não enq
   Alheias às crenças. Palavras de cuidado a cada fim de noite consolam-me de que ele está... Bem.    Não há aqui um movimento. À espera daquele cujos braços me erguem a cada manhã, pelo ímpeto de respirar com o toque de sua lembrança, encontro-me.    Desejo-o amando-me em seus gracejos, amando-me em minha saudade. Cada minúcia, inteiramente. Dos olhos aos dentes, à inquietude, à voz, aos braços. Coloco-me ao seu lado. Desejo-o ao meu.      Atrevimento é a maneira como eu juro que te conheço assim. Cada minúcia.

Embuste de um segredo que a mim sussurraram.

   Um erro. Um, para enlaçar todo um acervo. Aquela nuvem apareceu designada a ser a segunda opção da garota, seu passa-tempo.    Ela, a garota, nunca mais devia deixar-se envolver em sua brisa, uma vez que a nuvem, opiniosa, ironizara sua hombridade. A nuvem, entrementes, não devia nunca mais plainar sobre aquela menina, que se divertia com cada desencontro que produzia. Mas ela continuou ali, e a garota esqueceu-se do orgulho, ainda sem saber o que queria ser: se mulher, se menina.    No fundo, elas não se mereciam. À menina não valia experimentar mentiras tão boas. Ela não merecia algo tão aberto à devassidades. Também não merecia tanta atenção, tanta doçura, tantas palavras que ela sempre sonhou, sem saber, em ouvir. Cabia naquela bruma todo seu bem e mal, era um primor dualista que, por sua vez, não merecia, simplesmente, alguém tão vulnerável e tão delicadamente ingênuo. Não merecia a frieza e o desprezo daqueles gestos calculados para prendê-la, e não merecia ser curativo de n
Quis esfolar os dedos, rasgar a pele para poder ver o sangue. Vermelho, vívido, invadindo o mundo exterior. Falar estava lhe causando ânsia: alguém que tanto tempo passa sem dizer nada, apenas a ouvir mentiras, quando finalmente torna a abrir a boca, fá-lo para mentir também. Deplorável. Estava também a sentir a fadiga de acreditar, sempre, sempre, que fazer-se alguém perfeito também tornaria outrem inclinado ao gesto. Grande erro. Agora, não queria mais crer. Não queria mais rosas. Não queria mais esforçar-se e esquecer os motivos do pranto diário. Não queria mais hiperbolizar a escassa doçura de poucos gestos que lhe eram dirigidos. Queria voltar no tempo, não desfazer nada do que havia desfeito: se havia algo em que acreditava naquele momento, era que, outrora, estava mais feliz. Feliz não, descobrindo a felicidade. Mas, que pena, largou-a. Julgando-a inútil, insuficiente, inverossímil, largou-a.
   Faz findar essa saudade. Abraça forte sua menina. Abraça com os lábios, traga beijos. Faz silêncio (e não distância). Faz estreitar. Acalenta, faz despertar, traga afagos. Deixa rir... Que desta maneira que ela ri, passa-se unicamente contigo. Traz tudo que houver de ti. Traz, pro mundo que aqui te espera.
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã Mais uma vez, eu sei...    O peito enfunou-se, orgulhoso da coragem que nem era sua. Quis espremê-la, enchê-la de beijos, agarrá-la e pular junto dela: um sonho !    ...Pouco a pouco, as mãos soltaram-se. A coragem tornou-se necessidade: os olhos brilhantes vislumbraram os fatos como fatos, não contos. Um torpor de estagnação dominou aquela boca, abafou os pulos - pensava no que ia fazer por aquela doçura que escondia inquietude num riso cotidiano. Desejara a vida simples, desejara que aquele ato bastasse para tudo, e imediatamente. Porém, aquele ato apenas tecia um começo - mais a aflição que causava a possibilidade de aquele começo estar inclinado a uma tragédia descomedida.    O peito desassossegou-se, cuidando de uma agonia que nem era sua. Quis espremê-la, enchê-la de beijos, agarrá-la e pular junto dela: escondê-la ! Prendê-la em qualquer outra dimensão, tapar olhos e ouvidos, não deixar que lhe fizessem mal.
   Confiou nele, sabendo que "se não fosse eu , seria qualquer outra". O que a levaria a querer dissipar seu fôlego numa guerra perdida, seguir por um caminho naturalmente incompleto, a conceder confiança a alguém cujo maior orgulho é ser indigno da mesma ?    Mas,  céus...  Que tipo de cegueira estúpida,  de medo infame,  o levaria a não reconhecê-la ? (necessário lembrar: sem julgamentos e sem incivilidades selvagens. Selvagens.)    Não é possível distinguir os passos dados do que é deixado pra trás - sob esse escuro, tudo, todos, ficamos iguais. É inevitável essa angústia, essa aflição, irremissível questionar "e agora ?". E agora, que há de ser ? Não há mudanças, todavia, se bem reparar: nada além da expansão dessa cratera que ele, há muito, vem revolvendo em seu peito.    Não cogitou a distância, outrora ? Diga-me quem é que está perdendo. Não vê ?
   Foram os dias inundados pelo silêncio de estar só... Foram as lágrimas temerosas do mistério inebriante. Foi o início, que veio a findar, despreocupado e desconhecedor do sentimento que guardava. Foi o recomeço aflito e ignorante de meus erros. Foram os meus erros sempre a convencer-me a conformar-me com a grosseria da vida, julgando não merecer nada melhor.    Construtores de memórias, cingidores de lembranças e da força oriunda dos momentos pelos quais vale a pena lutar, pela força com que se acredita que vale a pena ficar...  Foi tudo. Todas as guerras sangrentas, das palavras que fizeram sangrar; todas as vezes em que minguaram os atos e fizeram-se esquecer os abraços; todo esse pequeno universo que, pequeno, faz-se tudo, pois é, simplesmente sendo, tudo o que se passou.    Não me interessa o valor material, mas sim o gesto. O gesto somente. Este sorriso resignado nunca foi digno da delicadeza de receber uma flor. Nunca em ninguém fez despertar o desejo de dedicar-lhe uma péta
   Ainda que houvesse olhares distraídos que pudessem se interessar em pousar sobre o que se passava logo à frente, o escuro inacabado deu-lhes a magia de não se importar.    O céu nublado e as janelas de vidro escurecido enfraqueciam o sol, partiam-lhe os raios. A luz apagada, o frio suave, o silêncio, compunham aquela atmosfera cúmplice de mãos que se entrelaçavam timidamente, sem que houvesse toque algum.    Criado o espaço, restava-lhe fechar os olhos e atentar à vida que seus braços abraçavam enquanto abraçavam o ar; à vida que, longe de suas carícias, respirava.
Um epílogo desta alma, pra esta alma que desconhece se é verdadeiramente alma, se é verdadeiramente algo, ou qualquer coisa que o valha. Um epílogo desta alma ? Uma flor descolorida, coisa inútil que, sozinha, insiste em colecionar memórias do que não foi, saudades do que não vem. Um epílogo desta alma: A síntese da espera no calor da paciência que implora pra não partir; Que grita, quase entediada, "Sossega ! que o amor não rima sozinho não pede rima, sozinho, só quer chorar". Um epílogo desta alma, desalmada criatura, paradoxo da ternura que mata pra proteger o viver, querer amor o deixar que seja amor o abraço da própria sorte... O gracejo, que é amor.
some kind of fear and the wind dances his cold coreography whispering through the leaves loneliness steps i can hear under the rain that wake me up to find you away away away wonder why hurts my thoughts voices from the clouds calling me they say i could go walking they say they have wings for me they say they will come down to me and grab the silence of my dreams that never ever ever let them sleep they twitch to rest in peace some selfish tears from bruises you lick them that is just the start dear your scars will not let you close your eyes beneath the embrace of the heavy clouds that i have been talking they have been hidding all those stars hidding all that shine i know so i shut myself when the lips that i expect to say they care just stay open waiting for more and more and more food maybe if i could really follow those clouds i could go through the storm i could find the  endearment i need by catching a  thunder or two maybe i can  leave all my memories now
   Desisto de todos os sonhos que não o relatam; rendo-me ao teu egoísmo artífice de devaneios que cometem sorrisos em horários inaptos (de devaneios, aliás, que não cessam). Deixo-me sufocar na melodia que crias para circundar-me e a repito uma, duas, mil vezes: estou viva ! Estou viva e embevecida !    Sonhara, quisera... Quisera tanto a garra da ousadia de dizer-te: Amo-te ! com um amor que envolve dimensão maior que a união de todas as constelações que os olhos não alcançam. Amo-te, com o amor de uma vida inteira.
   Ouvia-se o vento; sentia-se cheiro de sal, do silêncio... O sol esparramava-se por todo o céu e cingia a areia à medida que nascia. A brisa era quente e confortável, com ares da noite fria.    Dois frente ao mar, às suaves ondas da manhã.    Uma mão estendida. "Quando esta fora minha, preferiu atirar-se ao mar...". A mão persistiu. "...É o meu mergulho agora.", olhares cruzaram-se e foi permitido às mãos que se tocassem, que se unissem pra adornar e fazer parte do horizonte.    "Vem comigo".

De uma Manhã

Solitude - inverno das companhias, mãe dos sonetos, das horas vazias, estimada criadora de versos, ladra de alvoradas -, como te espero ! Invoco tua voz, tua pesada mão, rogo por tua paz; quede, Solidão ? Pois me angustia, tamanha alegria no receio de encontrá-la outro dia... Boa ventura que meus anseios todos juntos para o intento de envolvê-lo, guardá-lo no desfecho de meus sonhos, Entregar todo o afeto de meu zelo, toda a estesia deste bem querer; Dar a este amor força para crer.
   Clamando palavras que não vêm... Quisera poder tecê-las, então, na tentativa de atenuar este desconsolo que, aflito, em mim não cabe mais e não me larga. E não me deixa.    Não vens, nunca chegas, todavia, desde já e desde sempre estou a lamentar tua partida e para avolumar meu padecer, sepultaram-se as palavras, sequer um verbo me restou.    Ao vislumbrar-me acompanhada, porém, estimo minha quietação intrínseca; julgo ser o silêncio o enternecer dos âmagos, da companhia cujos verbos principia a emprestar-me e aninhar-me para adormecer - ainda que a autêntica solidão não permita.
   O céu estava cinza porque estava nublado - pois, continuaria cinza, ainda que o filme não fosse em preto e branco -, anunciava-se a chuva... Por entre as nuvens pesadas, umbrosas como aquelas que usualmente revestem castelos mal assombrados, brilhava manso o sol, discreto. O vento fazia-se ouvir soprando frio.    Era uma grande casa - que parecia um país inteiro, que parecia no meio do nada -, de tijolos cinza (mas, a partir daqui, as cores tornam-se contestáveis), com muitas janelas de vidro de armações brancas e adornadas. Era uma grande casa, circundada por um grande jardim com algumas árvores, alguns arbustos, alguns com folhas, alguns despidos, e pedras brancas e pretas, pequenas e grandes. Havia bancos e mesas adornados como as janelas em certos pontos do jardim... E lá estavam, em um dos cantos, sentados frente a uma mesa e sobre ela, um tabuleiro e um pedaço de papel. Cada palavra escrita era uma palavra dita por uma voz que gelava mais que o vento. As mãos tocavam-se, pela

Domingo no Parque - Gilberto Gil e Os Mutantes

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O rei da brincadeira Ê, José! O rei da confusão Ê, João! Um trabalhava na feira Ê, José! Outro na construção Ê, João!... A semana passada No fim da semana João resolveu não brigar No domingo de tarde Saiu apressado E não foi prá Ribeira jogar Capoeira! Não foi prá lá Pra Ribeira, foi namorar... O José como sempre No fim da semana Guardou a barraca e sumiu Foi fazer no domingo Um passeio no parque Lá perto da Boca do Rio... Foi no parque Que ele avistou Juliana Foi que ele viu Foi que ele viu Juliana na roda com João Uma rosa e um sorvete na mão Juliana seu sonho, uma ilusão Juliana e o amigo João... O espinho da rosa feriu Zé (Feriu Zé!) (Feriu Zé!) E o sorvete gelou seu coração O sorvete e a rosa Ô, José! A rosa e o sorvete Ô, José! Foi dançando no peito Ô, José! Do José brincalhão Ô, José!... O sorvete e a rosa Ô, José! A rosa e o sorvete Ô, José! Oi girando na mente Ô, José! Do José brincalhão Ô, José!... Juliana girando Oi
You won't remember... That's ok, When everything is born to be forgot, someday. These steps are calling me to leave. These steps won't take me back, we disagree. I'll give you a flower, You may remind it.
   "Anipnia". Parece um termo médico (e talvez o seja, vá dizer...)    Tem um balanço quebrado ao lado de um pé de romãs doente. Um balanço de madeira apodrecida pela chuva, madeira velha... O vento sopra, o balanço range, o vento sopra, despenca outra romã.    Consome, destrói - e não há ninguém lutando contra.    Tem esta noite quente; o vento sopra e os olhos ardem. Qualquer tentativa de mover-me afoga-se na inércia inexorável... Este ócio não me dá vontade de tentar. Este ócio me deixa inclinada às reticências...    A nuca dói e a vista escurece. Outra palavra descoberta, eu quero... Não temê-la. Acreditar.    O vento sopra, o balanço range, despenca outra romã... E nasceu uma rosa branca, no canteiro do outro lado.

A Saudade das Folhas

Sobre o meu barco ancião, junto às árvores tortas, Venho sofrer o outono da alameda. Há um ranger enervante e bom de folhas mortas na paisagem finíssima de seda. E estende-se a meus pés a tristeza de tudo que fui, que foste, do que sou, do que és... E as árvores também têm, no chão de veludo, a saudade das folhas a seus pés... Guilherme de Almeida
   Obrigada por esta felicidade. Por todas as vezes que me disse "boa noite". Por todas as suas palavras, absolutamente, todas as suas palavras.    Lembrar você deixa... Tudo bem. Estranho, perigoso . E logo passa. Lembrar você te faz estar aqui. Lembrar você é adormecer, lembrar você é acordar. É escrever essas porcarias clichês e apagar, com vergonha e medo de mim - e então me sentir culpada pelo meu silêncio de aparência ingrata e deixá-lo rir-se com minhas tolices. Lembrar você é abraçar-me a um post it azul colado em minha carteira. Lembrar você é ouvir qualquer música brega e ruim e sorrir. Lembrar você é saltar assim e ficar muda - porquanto vivo agora os sonhos que sonhei escrevendo.
   Das vezes que você se sentou ao meu lado e me contou o que sentia, eu sofri sua agonia, eu senti meu coração querendo saltar pela boca quando ele segurou tua mão, eu senti raiva (muita raiva, por vários e certos motivos) dele. E agora, eu percebo, eu nunca senti sua preocupação... Nunca queimou em mim o seu amor por ele. Tudo o que senti e vivi, enquanto te ouvia, foi espontâneo, foi natural, mas, somente parando pra pensar eu posso saborear, uma parcela insignificante - mas é o que posso - do seu sentimento. Agora, agora sim, paro para vislumbrar o seu amor e deixá-lo doer em mim. Sabe que eu percebi sua importância depois de querer retalhar aquele que lhe fez chorar ? Foi tentando enxergar as coisas pelos seus olhos verdes... E me maravilhando com isso.    Acho que os julgamentos estão fadados ao erro. Devo dizer, a pessoa mais incrível que eu conheço é essa garota de beleza e índole incontestáveis (ainda que você discorde)... E, ao nosso primeiro contato, tive medo de você. A es
   Anoitceram estrelas cadentes sobre árvores vestidas de inverno, árvores despidas de lua... E as criaturas sorturnas, exauridas a tragar a própria essência, profetizam o álgido fervor da próxima alvorada.    Vento e éter.    Obumbrando o caminho, o terreno gretado - das frinchas, armadilhas difusas, esparsas, dos que caçam para cativar, aprisionar e ver morrer, delinquentes do esperar, que imperam ordenando à noite que fique (intencionando abortar a alvorada, intencionando o findar da espera no apático conformismo cético de mudanças)... São cegos, aliás, cegam-nos: quede bravura em sucumbir diante das vãs dificuldades ? Vãs, todavia, superados os tropeços, afortalecem-se os passos que transporão abismos...    Essas dores de poeta... Ai, que nem poeta eu sou ! Essas dores que querem sempre esperar e esperam comigo, desde meu nascimento... Ainda que a expectativa desagrade, ainda que erga-se lânguida... Espero, desejando o porvir - aprendi.    Eu trago os ventos do sul e do leste,
Eu não quero acostumar-me a lamentar o silêncio, a relevar tua ausência, saciando-me das memórias, Ou começar a calar-me e ter assuntos apensos, namorar minha descrença, e desejar ir embora... Então, se eu emudecer, (vulgo: se eu enrubescer), se eu fizer perguntas bobas, se as rimas soarem tolas É por querer, todo dia, fazer crepitar um beijo, adornar um verso leigo numa exclamação festiva

Prognóstico Boçal da Desunião de Corpos

   Adeus, adeus mil vezes ! Eu quero morrer de tristeza - quando eu perder você.    Adeus ! Pois o despedir torna a nos ap(a)ertar em um abraço do que resta de nós, um enlace missivo a desfazer-se sempre, alimenta-se mais e mais da distância e nutre essa flama, esse nódulo que nos sufoca na candura de um "até mais"... Para deixar-nos após, unidos e saudosos até os ossos e eternamente inseparáveis (até a tarde arredar).   Pela última noite inacabada, não sou mais digna do alumiar da lua que, mesmo, nunca me trouxe muito além de algo para rasgar e resmungar "ruim demais"... Ah, sua déspota da felicidade ! Mil vezes nos afaste e mil vezes voltaremos !    É certo, minha inclinação ao erro, e às dores, fazem de mim algo questionável... Pois, separamo-nos ? Separamo-nos, uma única vez que seja ?
   Estes flagelos acompanhando-me... Ah, eles silenciam, eles silenciam sim - só de pensar, meu querer te conduz, te busca... Eu realmente não estou sentindo (muito) os quilômetros que minhas olheiras insistem em percorrer.    Um murmúrio para acalmar os ânimos. Duas ou três palavras - e apago. E apago, portanto (e entretanto), cá estou, renunciando à humanidade; desletrada, descerrando-nos, desvendando-nos. Mirando-nos, meu enlace de poesia... Não possuo mais palavras - regando apenas, carregando apenas, devaneios, memórias imaginativas... Céus, que é este rubor a me calar ? A Um Passarinho Para que vieste Na minha janela Meter o nariz? Se foi por um verso Não sou mais poeta Ando tão feliz! Se é para uma prosa Não sou Anchieta Nem venho de Assis. Deixa-te de histórias Some-te daqui! Vinicius de Moraes

"Hoje que estou só e posso ver"

Bem, hoje que estou só e posso ver Com o poder de ver do coração Quanto não sou, quanto não posso ser, Quanto se o for, serei em vão, Hoje, vou confessar, quero sentir-me Definitivamente ser ninguém, E de mim mesmo, altivo, demitir-me Por não ter procedido bem. Falhei a tudo, mas sem galhardias, Nada fui, nada ousei e nada fiz, Nem colhi nas urtigas dos meus dias A flor de parecer feliz. Mas fica sempre, porque o pobre é rico Em qualquer cousa, se procurar bem, A grande indiferença com que fico. Escrevo-o para o lembrar bem.   Fernando Pessoa

Decalque

   O telefone desligado - assim não há nada para esperar.    Receio ter a alma pequena - somada à vocação de querer abranger todos os sonhos do mundo, tudo aquilo que não possuo - somada à predisposição de pulsar onde não deveria, em momentos que não deveria - somada à pertinácia de lastimar sempre que os juncos mais lindos estão sempre mais longe do que posso alcançar - somada à infelicidade de saber que devo calar-me enquanto vislumbro, sob um banho, este universo costurar-se em nada - somada à minha inclinação em ser Quincas, o cão de Quincas - somada à minha sina... Talvez eu morra de tuberculose, julgando ser ideia fixa.    Enfim, quem disse que a satisfação é muda ? Não, minha flor... Não busque uma acepção, entrevejo muitas lacunas... Do debate desta manhã, vislumbro a perspectiva de também buscar um indício que prove que sou forte - pra quê ?
   O nariz incomodado pelos ácaros dos livros enfermos - jazem, sufocam-se neste cubículo sem janelas, onde o sol arde em demasia -, reclama, conclama, uma brisa a afagar os ânimos... Tristes, que falharam sem consolo, assistindo as lamúrias delatoras de que são insuportáveis por... Inspirarem, expirarem, inspirarem... Ludíbrios...    Temporária esta transfiguração ? Interina, ou... Ai, inteiriça ? Que sustente-se lânguida, até sucumbir, com estas tênues linhas de senso, pois quero que torne a ser o que fora - pois este meu íntimo desconheço.    Há neste céu abrangente, cingidor (de dores) de espinhos e olhares e confinador de enlaces, um ar missivo, um tom de quem está sempre a se despedir... Há neste céu o findar dos alentos que julguei... Ser.  Busco, quem cuidou que este céu despontasse ? Busco a quem, que não a mim ? Que enquanto mirava, pasma, o quanto meu eu transfigurou-se silente e repentino, perdi-me no anônimo incoerente de minha alma controversa e absconsa.    Eu tento..
Silhouettes on the street Side out the window, watching me Silhouettes, they... Seem so familiars Winter took away those leaves Silhouettes are following me And under their steps I can see I count... Lost flowers Wind whispers While whispers It's so cold... Silhouettes which thirst is blind Shadows which life was denied Silhouettes, they... Quiet quietly rise up
...E a grande pergunta: "medo de quê ?" É medo dessa dúvida, medo de entender que o beijo embaixo da árvore foi mesmo o último a acontecer - Que toda nossa tempestade fez a árvore adoecer.
Meu desacerto equivocado, pouco mais, leiga metáfora, nada mais, tola e adiáfora... Adiável. O desacerto equivocado decerto, foi reformado - quiçá, fluiu acertado. Um descuido exibe-se tarde: ao despertar e encontrar-te sem saber como, sem saber onde; Pela agonia de querer correr e encontrar um abismo defronte - a ausência de um rumo a tomar; No ímpeto de saltar sem conhecer a queda iminente, a ruína certeira salva à alma de ventanias derradeiras. A direção é dizer o inútil pois a estupidez calou a verdade; é tragar os minutos, é ceder à vaidade. A direção é a fenda, é a falha. A direção é a venda, é a navalha. A direção é não ensinar por desconhecer a própria ciência. A direção é a anestesia, a direção é a desinência; é o ato de envenenar-se por antropofagia.
   Mas, esteve sempre alheio, alheio a mim - todavia, bem menos que eu.  Em tudo (busque melhor palavra),  iniciava-se com uma negativa - os pronomes dos quais fugia, um assombro ou uma sombra -, iniciava-se de maneira esquiva, e esquivando esgueirava-se até o fim. Findava-se no começo, começava-se pelo fim, fazia-se escondido... Enfim.    Num improviso devoluto, com a tentativa de adivinhar o que se passou no começo olvidado, quando o viver está atrasado, que deixa fugir o que estava a dizer - e o começo vem depois do fim, e o fim anuncia-se prematuro.. E, esteve sempre alheio, recôndito num escape implacável de si. Um desatino, ou antes, uma metáfora encarnada... É ? Pois uma crua avaliação desvela um fim mal começado, e um começo mal acabado.
   Não cabe dizer, narrar a célere e torpe viagem que aqui me trouxe - porquanto não posso afirmar se foi viagem, se foi vertigem... Não cabe dizer o que de mim fizeram, apenas o que pode ainda ser feito com o que, agora, sou eu, com o que permaneceu, pois ainda há... Há o que fazer. Uma torrente pujante, de otimismo, decerto.    Talvez o mal esteja no mirar saudoso com que me dirijo aos devaneios volvidos. Talvez partilhe desse mal o cárcere imposto sobre mim, por todas as portas estarem abertas; a limitação nata da liberdade interminável... Observar todas as expectativas e possibilidades cria em mim o medo de sentí-las e toma-me... O tempo para vivê-las - até o despertar. As obviedades que me envolvem pelas vedas deste cárcere não correspondem mais às minhas percepções. O infindo solilóquio que vinha me guiando começa a silenciar, calando minha alma no escuro e...   É um encanto, é uma candura, que enfim, não cabe dizer.
   Não há glória na maneira como aligeira os passos para esquivar-se dela. Sua (de) cadência sobreposta à evasão covarde, cruel, estúpida, o faz atropelar-se e deixar porções suas pelo caminho, que nos encaram com meias verdades e ressalvas de que jazem ali, além das inumeráveis possibilidades do que você pode ser e das controvérsias a respeito de quanto de você realmente se encontra ali e podemos enxergar, incontáveis desacertos.    O prateado álgido da lua, o prata de sua louça, com a qual (alenta-se ?) devora o ânimo daquela que sacia, com o lodo que sua existência deixou, a sede que você despertou e não se mostra digno para matar.    Não se acha digno para matar ? Fraco. Que o castigo prometeico, fado dos que deixam a humanidade que carregam no imo esfacelar-se em brandura e afeto, dos que adornam o perigo de deixar-se guiar por mãos de outrem, conscientes do falsear alheio que trespassa brios, dos que sucumbem todos os dias, mas tornam a encarar a dor que lhes é cometida, é a ún
   Não era um violão, era só uma vassoura, mas deixa, que fazer alguém chorar nesse dia seco é quase um atentado. Além disso, num dia seco, uma vassoura nunca é só uma vassoura - também não um violão, mas...    Na verdade, nada tem só uma acepção em um dia seco, como rasgar os lábios desidratados, para sorrir. Algumas coisas, inclusive, valem por várias o ano inteiro; quem poderia, por exemplo, limitar o sentido de dizer que, desde que você - isso virou um monólogo e é tudo culpa sua - apareceu, escovo os dentes fazendo uma turnê pela casa ? Ou, simplesmente, limitar o sentido de agir assim ?    Agora é pensar, que não consigo mais dizer nada enquanto não buscar minhas roupas de volta - disse que estaria nua -, e perceber sua distração: enquanto você se cala e enxerga nesse dia seco, o mundo, menos o que realmente deveria enxergar - você -, eu vou dormir. Então, me acorde quando quiser dizer boa noite.
   Dizer, com precisão, quando nos apartamos, não sei. Não foi repentino, não nos agravou nenhum distanciamento súbito, foi devagar... E agora, só o que posso atestar é que você não está mais... Aqui.    Sobre adormecer... Temos feito, com exímia igualdade. Talvez, tenhamos perdido a hora de acordar. Ademais, você se pergunta, se nós ainda queremos acordar ?    A maior parte de minhas certezas apoiavam-se em você, aqui. É com aflição que as fito, abatidas, sobre o chão, misturadas a folhas secas, agora que não se encaixam mais na pessoa que você se tornou. Em quem nós nos tornamos ?    Não lhe culpo, eu sei, não é certo. O intento de escrever procede somente desta mágoa que não consigo afastar... E, pra onde quer que eu olhe, há uma situação semelhante, então, talvez, eu já tenha me acomodado. Acho que temos um pouco disso, de deixar pra lá, às vezes.
   Se a vontade for calar, não dizer, deixa, que eu prezo as virtudes dos momentos mudos, quando juntos. Difere, porém - aqui, uma célere rubrica -, quando a mudez deriva do apartar de nossos âmagos.    Meu querer, ainda que não questionado, consiste no abrigo dos ditos que pedem para serem ditos sob uma serenidade digna do matinar da alvorada, que clamam remanso para nascerem e a ausência de um ensejo. Destarte, neste gesto tácito, sem que possas escutar-me; com este leito que enquadra tudo o que não cabe no estreito de nosso desvelo, deixo-te com meu ar pueril para que saibas, que és querido.
Lares apagados. Pra quê tanto frio, me diz ? Eu sei. Certo, não comecemos com "eu", mas com você.   Você me faz saber... Como é... Buscar, em desalento, o que dizer, enquanto assisto aos últimos restos de palavras fugirem. E a agonia ? Não digo nada... Nada, para adornar o seu silêncio, nada. Aliás, obrigada. Obrigada por me fazer sentir assim. (Sinta minha feição desarticulada ensaiando mutilar-lhe a vaidade)
   Soía sã, imo seguro que os passos que a mim conduziam, convictos a apartarem-se, decerto conheciam o caminho. Perderam-se todavia, fascinados, da solidez. Pela conjetura, a qual este silêncio reverencia, apanho as vestes e a ideia de que, o figurar-me, sempre, solitude, solitude de mim, faria sempre, soledade, contínua, seria. Seria...    O receio de extinguir o lar seguro, soa burro - sobrevive-se de uma ou outra maneira, afinal. A estesia repetida faz-se nova - é possível ? - e destemida a apostar em acidentes. Nas venturas impresumíveis, nos enigmas estéreis.. Estéreis, impossíveis pela linguagem, porém sem indícios de serem, de fato.    Quede enleio veterano no íntimo do âmago, a transpor-se sobre tudo ? Um medo mascarado resta, obstinado a permanecer escondido e convence-me ser fictício... Não me afligem a agonia imposta pelos gracejos súbitos e arrebatadores de inépcias, nem a angústia de não saber lê-lo... Mas existem. É inegável, como existem. Reina fleuma que faz doer, e
   Sorria. Lá fora o tempo não fazia a menor diferença. Chovia ? Sorria. Diante da futilidade de sua existência humana, sorria à carta atrasada - tanto tardou que havia decidido não entregá-la -, sorria à banalidade de ser quem era e gostava assim, pueril, medíocre, sorria.    Sem muito interesse, os olhos ventavam sobre as flechas que jaziam próximas e, tímidas, beijavam-lhe os pés, natas da ofensiva do inimigo. Os olhos ventavam, o peito sorria.    A carta. Transbordava, moldada em paráfrases, vírgulas e vírgulas e a mesma ideia fatigada apresentada, toda vã, em sua dinâmica de inverno.    Sorria. Frente ao encanto da folha transparente. Frente ao enlevo de encontrar-se vazio.
Alegria, ou coisa do gênero, astenia... Atulhado de rascunhos, e nenhum ultimado, jaz despido este amuado de miragens retardadas pelo emudecer dos dedos, talvez pela percepção, incerta, dos olhares irrompedores que as encaram, as miragens, percucientes. Saciados da lassidez ingrata, os ditos saem defeituosos, os textos ficam inacabados e escusos. Repulsão, solver as lamúrias, basta... (faltam-me os pontos corretos) Entretanto, o contentamento cresce pacato, com desajeitada graça ditosa, e é em si, taciturno, pelo silêncio, tão penoso, que impõe à minha escassa escrita. As palavras que agora procuro, não existem.
Não era impossível, poderíamos ter aproveitado a ventura de partilhar uma felicidade feita unicamente por nós, independente de quanto tempo durasse essa condição. Da vontade de que nós nascêssemos, você nos matou. Sádica, lúcida - é hostil o meu afastar das lágrimas que, hoje, você diz chorar, tentando revigorar-nos, arraigando-se ao nosso lado "quando ao lado ainda é muito mais longe que qualquer lugar"...
Não tem mais nada, só fumaça Que me agarra, que me escapa Não tem mais nada, só você Que chegou tarde demais... Não tem mais nada, só o romper De um outro dia, em outro cais
Não só as mágoas das palavras derramadas, não ! Mas um riso, benquisto, mudo, ínscio de rimas... Um riso repentino, decorrente do desagarrar dos sopros contíguos, antigos, iníquos, que apartavam-no... De mim. Sopros delusórios, de lábios remontados. É verdade, não existem mais, por isso, porém, não somente isso... Sorriso, sorrisos. Um riso, um, artigo indefinido; um riso para acompanhar o enleio da emancipação sentida ao descobrir-me: a alma do poeta que matei.

Exício

Vá sorrindo, sem olhar pra trás, Passa o rio e, senhor, ninguém mais Verá as máculas de sangue... E sua mão num gesto de adeus, Descambada sobre os passos teus, Submergiu em um instante... Seus olhos vítreos vislumbravam Planos que viveram e deixavam, Devorados, impotentes... Feroz, seu sorriso de cor púrpura Rasgava-se com baldadas súplicas, Consumido na torrente...

Prosaico

Minhas palavras me abraçam e me aninham e me amam com um amor que não cabe a ninguém. Minhas palavras são minhas e brincam comigo: mostram-se, provam que existem e somem quando as procuro. Ocorre que sinto-me nula. Muda. Sinto-me, na verdade, banal. Tantos outros ! Sofremos, sofremos da mesma inquietação, do mesmo mal, da  mesma moléstia. Estamos - e este é o dano dos danos - em todos os cantos, estamos, metidos em nós mesmos e partilhando... Nadas e nadas, dores inválidas que só servem, de verdade, a nós mesmos. Usualmente, via em um estranho qualquer um qualquer pedaço de mim. Sentia-me, em parte, compreendida.    Porém, ao tentar escapar -me , modificar-me, não pude. Sinto-me mal, sem saber onde estou ou fico, de tanto ver-me, já não enxergo mais, pois as palavras que me abraçavam, as minhas palavras que me abraçavam, a outros não puderam fazê-lo... A outros, não sabem fazê-lo. Quisera ensiná-las, agora que sei e sinto, palavras de um estranho qualquer, sem qualquer nada de mi

Mrs. O - The Dresden Dolls

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Oh mrs. O Will you tell us where the naughty children go Will you show How the sky turned white and everybody froze Heaven knows how they got into the fireplace But everybody's saying grace And trying to keep a happy face And oh mrs. O Can you teach us how to keep from getting cold Out we go and you watch us as we face the falling snow What a show with our hairdryers aimed heavenwards And fifty foot extension cords You really have a way with words The truth won't save you now The sky is falling down Watch the vultures count the hours April trains may bring strange showers And oh mrs. O Will you tell about the time they made you go All alone to the palace where they took your only clothes We all knowThere's no hell and no hiroshima Chernobyl was a cover up The world is really all in love ! Oh mrs. O Will you leave us hanging now that we are grown Up and old Will you kill me if i say i told you so We all know There's no hitler and no holo
"Promessa é dívida". Você prometeu ser minha. Pra sempre. Ainda que tenha sido uma promessa não feita por palavras, e sim por gestos. Você prometeu. Cumpra.
And I swear, just now, I saw a sunbeam...
" Lembranças são como cadáveres de afogados que repentinamente emergem de águas obscuras para amedrontar àqueles que ingenuamente ousaram afastá-las da incerteza de suas vidas ". Irremediável. Sinto-me em um filme de horror, sinto o sangue nos olhos... Nos olhos que me prometem a verdade. Vejo-me atada a este vício de buscar conhecer-me, sem querer resgatar-me do torpor que me envolve... Um coma em inércia. Diante do primeiro ato hesitante, irremediável resignação. Estou cansada de escrever "embargada pelo medo"... E estas lembranças, eu sei, são muitas, são tantas e não puramente exclusivas... Não há habilidade capaz de restringi-las. Fazem sofrer deveras, de fato, mas eu... Não posso evitá-las, e o porvir, amordaçado, desde sempre cativo de fados e sinas, donos de tal vocação ao fracasso, me tem amedrontado simplesmente aquém do que o usual, mediante as imprudências e contradições que li e ouvi... Sim. Tais trocas de ideias que me levam junto ao... Ao nada. Que
Aquela frequêcia esvaiu-se... As palavras são as mesmas, sempre... Sempre. Ele.. Ele tirou-lhe tanto, meu bem. É tão cruel, é tão injusto... E você ? Você se encontra em algum canto dessas rejeições e abandonos ? Você se enxerga aí ? Está longe, está fora das mãos que lhe querem protegida, protegê-la...
Sometimes you scream 'cause there is no one to hear. You scream wishing you could whisper... Low... Softly... You scream searching for the words. And they never come, what a pity . So if you can't remember your name, you just know: you failed. And the mirrors that you pasted to hide those... "scars", only highlighted your vacuities.
Olhos tempestuosos, embargados pela sombra de olhos glaucos; afogados num espectro castanho. Olhos cujo trabalho hercúleo é fincá-los junto aos pés, nesta terra iníqua. Fincá-los, não posso, devo já dizer, junto aos pés passivos, os olhos não param. O mundo sinestésico, das estesias frenéticas de conjunturas supostas e mortas - desviaram-se os olhos -, a busca antitética (porquanto a boca não cala, conquanto queira, conquanto não queira) pelo silêncio abissal restrito aos olhos do âmago... Os olhos, os olhos. Escassos, porém, em si, em seus poucos castanhos de olhos, cabem os outros olhos todos, e os olhares infindos jazem neles... Nestes olhos. Falta a inconsciência de ti.
Opres...so. Laconizante . Opresso - lacônica. Necessito um neologismo de meu gáudio, digno. Inopino... Soía, moribundo, agora vívido, Soía tão perto e longe: tantálico, O desatino, agora lúcido: a miragem de um abraço... Nato singelo e invariável. Os gritos, todos, tão cálidos, Dos gritos, todos, trancados, Urge, urra, o desacerto, o desvario, O ter-te e ter-te mais que em mim, O ter-te e ter-te.. Enfim.

Convulso

Eu... Eu, eu não queria ter chorado. Merda. Eu ("eu, eu, eu...") odeio não ter controle sobre mim mesma... Quero dizer, eu odeio não ter controle nem ao menos sobre mim mesma. Que eu chorasse. Mas que soubesse responder (quiçá forjar uma resposta) a quem me perguntasse porquê. Ainda.. Sinto-me... Lânguida. Ah, quem dera... Quem dera eu entendesse o que há, e somente não pudesse dizê-lo, por não conseguir... Mas... Não consigo explicá-lo, palpá-lo... Um espectro deformado, que mal aguenta ser espectro... Nato de instintos, de impulsos.. Eu sei, eu só deveria saber... O que eu não sei (começo a rir, sem mais perguntas). Quando começou, quando deve terminar... Tanto para dizer que tenta sair ao mesmo tempo e... Nada sai. Reticências, nunca, minhas queridas, as odiei tanto... Por serem tão... Incapazes, tão... Impotentes ! Por serem... Por serem tudo o que tenho.
Deixa-me pegar-te as mãos... Sinto-as tão trêmulas, agora. Deixa-me dizer-te que sinto falta de ti, e de como adivinhavas tão facilmente, minhas recônditas (e inglórias) obviedades... Ainda me encantas, é certo. E ainda sinto-me amando-te a cada dia mais, como desde sempre... Há, somente, uma maneira nova de fazê-lo. Sinto-me uma nova pessoa. Sinto-te uma pessoa incompleta. Que houve contigo, meu querido ? "Esse amor, essa fidelidade, essa paixão não é, pois, uma ficção do poeta ! Ela vive, ela existe..." (Goethe)
Imploras por um apartar que não venha nunca, sem atinar o verdadeiro peso dessas palavras. Posso escutar, desde já, ainda que suavemente remoto... O retrógrado tombar de meu Castelo de Areia.
And still when I think about that day It makes me want to cry so hard.. Again. Damn, you're mine, How could you ? You can't Be just leaving, Be just going, Once you gave me here a thousand truth of lies; Once you won me all over, you made all that shit right...

Nefelibata

Não há, para mim, nada mais difícil Que encontrar-me em ti; o que está perdido Neste teu sorriso, tão só, tão íntimo, Tão promitente de ímpetos nocivos... Estes rostos, estas nuvens e linhas ! Cinéreas, aéreas, tuas, e minhas... Consonâncias incompletas e rimas Exaustas, conhecidas... Corroídas. Beatitude, que se diz famélica Dos abraços teus, braços, de alvorada, Desta beleza que, tão bela, bélica. Não há nada para mim; pra ti, nada, E o nada, dos nadas, deixa-me incrédula; Entranhas atadas, nefelibata...

A Nomear-se..

Mayara: Vai, agora começa você Nicole: Certo, deixe-me pensar.... Mayara: Deixe-me pensar nas burradas que fiz ontem, e que hoje não passam de meras nostalgias na memória Nicole: No consequente arrependimento de ter investido num abismo, já conhecendo o desfecho dessa história Mayara: ...Fiz-me de tola para conquistar os tolos Nicole: Fiz-me de louca pra governar os loucos ! E, como tola, me enganaram; como louca, me domaram... Mayara: Domaram minha sina, aquilo que a mim era ditado como o mais precioso, isso me tiraram... Nicole: Agora deles sou cativa, deste sonho que me consumiu somente quando dele me acordaram Mayara: Agora das vagas lembranças tiro a prática, dos sonhos não me retiro, tiro de letra esse destino! Nicole: E nadando nesta camisa de força, atino que das memórias, sobraram o torpe....Entorpecer. Atino, meu desatino, guia-me, é nato, é instinto Mayara: Todavia sinto em mim esse instinto, flagelo-me, reciclo em mim tudo aquilo que um dia fora perdido... Nicole: E nas név
Mayara: Foi-se embora, como as estrelas num termino de luar Nicole: Foi-se embora, foi sem medo, foi tentar brincar de errar Mayara: Foi brincar de se encontrar, de simplismente viver, não olhando a quem, mas fazendo o bem Nicole: Foi brincar de ser quem era, até encontrar-se ao ser alguém Mayara: De um jeito simples e inocente deleitou-se em seus braços, dali fez seu paraiso Nicole: E do que, da vida, era um ensaio, rabiscou um improviso Mayara: Improviso qual, gerou riso, pulsou alegria Nicole: Alegria qual, como uma dança, se compartilha Mayara: Se partilha, e se eterniza... Nicole: E, toda dela, toda nossa, sem rubor, quer ser escrita, sem pudor, pinta e arrisca.
E esses olhos ? Esses olhos que me seguem... Que inventam de tingir com um riso suspeito, qualquer outra face que envolvam. Pego-me, outra vez, tentando relatar o que não possui traços, querendo dizer... O indizível. Essa névoa tão opaca que reveste os olhos teus, esse brilho sibilino que os destaca... O bálsamo do Inverno a ele está enlaçado: seu frio soprar, sua cor gélida e dormente, seu toque severo e áspero, sua Solidão aveludada, seu som sombrio de Inverno, seu beijo de mistério, de Inverno e... Somente... De Inverno...

Ávio

A audácia desses dias, leva-me, vai levando-me... Entrementes ele troca de ideias, impaciente, inconsequente, pueril.. Eu diria, como lanças cruciantes, todavia, já não chega a tanto: encontro-me habituada aos risos, aos plangores, às mudanças, às permutas... Sem conformar-me, porém, como é que demonstra tão bem ser alguém, sem o ser e, dominando tão bem as virtudes e os interesses... De ser outro ? Imprudência, hoje sei, é supor e confiar. Necessito entendê-lo, quase não podendo, entretanto, tão somente interpretá-lo.. Longe de mim, da parte dele que em mim há, maquinalmente consciente, arrasto-me de volta para perto, quando a irmã indesejada remete-me àquela frieza justa e à saudade, companhia dos solitários, que, impiedosa, satura-me de si e da fome de saber se.. Se houve troca de ideias, ou ideias nenhumas.
Bye, bye... Bye, bye, my love, Bye, bye, bye, bye, for now. Bye, bye... Bye, bye, my love, But I just don't know how... Bye, bye... Bye, bye, my love, Bye, bye, I let you leave. Bye, bye... So long, my life, Bye, bye, I will stay here. You see, as me, This town is sinking, You watch the trees on fire. The roads are broken The sky was stolen, And your only care is a goodbye... So, bye, bye.. Such a waste of time. Bye, bye, you're no longer mine... From me, to you, This altruism so blue... Bye, bye... Bye, bye, my dearest, Bye, bye to a love so briefest... Bye, bye... Bye, bye, my cherished I'll save it on my chest... Bye, bye... Bye, bye, my dear, You'll never know how could be... Bye, bye, "bye, bye is above", "Bye, bye", for you and me; Bye, bye, for you, my love..
Quem espera inutilmente essa tal "dor que desatina sem doer" ? Esta dor, indolente, Ai, dói em mim, dor que não posso bradar, A dor insolente Do teu abraçar Que nunca vem e, muda, só faz querer calar...
...Sua diferença é uma anomalia. As palavras repetiam-se, incessantemente. E misturavam-se, embaralhavam-se, trombavam umas nas outras, arrumavam-se despropositalmente, num eco, num grama de cheiro de fósforo, que ela não perceberia se não lhe tivessem dito. Tremiam e misturavam-se também os elementos de sua paisagem. Se fechasse os olhos para organizá-los, dormiria. Nato de motivos que ela não procurou entender, receosa, um sorriso despontou, escondido em algum canto daquele murmúrio, e os olhos piscaram mais lentamente, querendo torná-lo mais vibrante, querendo sem querer.. Agora, não era mais nada. Ali, não havia mais nada. Quede... Consciência de hora, lugar e si mesma ? Não havia... Quando perde-se assim, e quando perde-se assim ? Conhece ? Este querer não encontrar-se nunca mais.. Porém, sua diferença... Era uma anomalia.
Sinto-me a pureza egoísta, a perceber a minha solidão somente. A solidão insatisfeita da companhia que não me sacia... A péssima atriz que sempre interpreta as árvores curiosas e indiscretas. O desejo de ser mais - a óbvia e conhecida frustração de não ser, eu... Sinto-me sentindo algo. Árvore. Sinto encontrá-la para desprezá-la. Eu, logo eu, que me encontro em canto algum para julgar ou apontar, todavia, humana, afanoso é não fazê-lo. As palavras fogem, pávidas e regressam, imorais, desconhecidas. Inventam para si qualquer outra acepção, não reconheço mais meu idioma, tão cheio em cada pedaço, de tanto vazio e tanto silêncio. Triste conspiração ingrata. Triste coleção de farpas, adornos aos meus retalhos...
If you wanna come, You don't have to be on your own.. I don't have a church, But I have a home. If you dislike the sun, You can keep your breath alone. I used to have a home, Now there's only this smirch...

Eu te Amo na Primeira Semana

Um "eu te amo" na primeira semana Faz disparar o coração Arregalar os olhos Despeja na corrente sanguínea adrenalina suficiente para você nunca precisar saltar de pára-quedas na vida A vida, após um "eu te amo" na primeira semana Demora a criar rotina A tensão é constante Será que ela me ama mesmo? Será que ela já falou isso, em apenas uma semana, para outro alguém? Mas se é real e recíproco Um "eu te amo" na primeira semana pode virar algo forte Duradouro, bodas de ouro Um "eu te amo" até a última semana! (Igor Cotrim)
Teu riso pálido no céu fugaz, apressado. Teu riso gélido, inerte, encara-me com aquele velho e odioso tom irônico. "Eu queria tanto que você fosse embora, junto ao céu e tudo o que nele há ! Eu ainda gosto tanto de você..." Lívido como o que me é inerente. Custa-me empunhar a caneta, observar meu tempo leviano correr a esmo por ti... Debalde tentar pensar, tentar entender como me fazes sentir, como me deixas... Nada vem, além de outra lúrida prosa turva, triste... Tento concentrar-me em algo, sem conseguir esquecer.. O nada que me remete a ti, o vazio que cultivas em mim. Deverias estar aqui... Deverias forçar-me a admitir, ai, como sinto tua falta... Por que acordo esperando notícias tuas, sem as querer ? Sem querer-te.. ? Hostiliza minha inquietude a espectativa de recebê-las, assim, tão desmotivadas e cheias de intentos aparentes que, de fato, inexistem... Estaria melhor se nunca o tivesse conhecido, mas isso é óbvio. Vou... Saio sem a impressão de ter vivido algo. Todas a

Remisso

Uma mácula, um borrão. No azul imponente, esqueceram um pedaço de nuvem, tímido, branco de rubor, tentando aprender a dissipar-se. Pobre projeto de bruma, de sopro atabafado, de névoa reprimida, perde seu tempo tentando esconder-se, sem ver que o vento faz isso por ela... Mas não há mesmo forma melhor que possa viver, paciência. Paciência. Como pode caber tanto nesta forma semi-nebulosa tão miúda ? Tão miúda e com passos tão paulatinos e concisos e acanhados, que caminham longe, tão mais longe do que qualquer um pode enxergar... Quisera que minhas horas corressem como correm as dela, e que não pudessem tocá-las, e que não pudessem mudá-las, como não podem fazer com as dela. Quisera ser dona de mim, ainda que eu não fosse mais que um fiapo tênue de fumaça esquecido.
Vou buscando esquivar-me, até onde me permite a ética. Distância boa não se faz ver, faz caber em um centímetro um ano-luz, surpreende, lenta e fugaz, imperceptível até que se veja... Afastando-me, sinto-me segura, porém a tua procura, a tua busca de mim, deixa-me inquieta, pois busca-me apenas para afastar-me em seguida. Ai, amo-te... E amo-te mais quando me encontro em teus braços... " Senhora, partem tam tristes / meus olhos por vós, meu bem, / que nunca tam tristes vistes / outros nenhuns por ninguém. / Tam tristes, tam saudosos, / tam doentes da partida, / tam cansados, tam chorosos, / da morte mais desejosos / cem mil vezes que da vida. / Partem tam tristes os tristes, / tam fora d’esperar bem / que nunca tam tristes vistes / outros nenhuns por ninguém. " (João Roiz)
O justo é não julgar, a realidade não se entende, se aceita - creio eu. Por hora, lhe digo - e, não tome você, isto como um elogio - que a morte não vem por não a merecer. Não posso negar que você talvez não seja somente a frieza desses seus olhos amarelos e loucos e sequiosos e vigilantes. Talvez haja, sob esse manto empedernido que te cobre, a parte que sofre e que diz que sofre, que escreve e deseja a morte, a parte na qual ninguém acredita. Sei que nada dito aqui é válido, não é uma sentença, é uma opinião. (Custoso). Cansei de ver-te como moléstia para tentar enxergar-te como gente.
Mas há que o dia está belo E estes passos que esfacelo, Amanhã vão-se pra sempre. Mas há que o dia está claro, Tão próprio do meu regalo, De minha dor, abducente. Há que a companhia é boa, De cessar pranto qualquer, Nada me vem confranger. Meus dias passam à toa, Vou no metro da garoa, Só procurando esquecer.
To be... Human. We are the careful and the displicence. We are so... equal, and so different. The promise and the abandonment. To be and to seem. I... I was, I am all that I said I was. I will. You thought... Thought that, I don't know, don't tell me, don't, I don't want to know, it's not up to you to say. What's on me, since then, such an unfair emptyness ! So unfair ! We... regressed. I regret it all cuz it burns on me. As we are, now, less than we were when we met. Like we're in -100, in a range from 0 to 10. No intimacy, just the way I miss what... just wasn't there. I bet everything I had in a... Illusion (a worn, clumsy, weak and stupid euphemism to "lie"). See you and me: ingratitude and betrayal. Hurts... Everytime your image comes to my mind. I want to avoid, not to think... (Thinking, I though; cannot let go, I must). Force myself a thousand times to embrace this reality. Hurts... Much less, much more, much... Too much. As I heard yo

40 Dias no Espaço - Leoni

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Até ontem tudo estava aqui Casa, sol, felicidade, nós, Mas aconteceu e eu nem percebi Quando tudo se perdeu de mim Quadros, móveis, a televisão, Nossas fotos, seu amor por mim, Devem estar aqui, noutra dimensão, As coisas somem sem explicação... Se tudo passa depressa Só o que é novo interessa... Quarenta dias no espaço, Em algum planeta deserto, Talvez de lá eu consiga voltar a ver O que eu não vejo de perto Só enxergo o que eu não posso ter, Mas se qualquer dia eu conseguir, Vai perder a cor, desaparecer, Como tudo o que me fez feliz A beleza explode ao meu redor, Um milagre novo por segundo, Facas e maçãs, luzes sobre nós E os detalhes que revelam o mundo Mas tudo passa depressa Só o que é novo interessa Quarenta dias no espaço, Em algum planeta deserto, Talvez de lá eu consiga voltar a ver O que eu não vejo de perto...

Vinicius de Moraes

Soneto de Véspera Quando chegares e eu te vir chorando De tanto esperar, que te direi ? E da angústia de amar-te, te esperando Reencontrada, como te amarei ? Que beijo teu de lágrima terei Para esquecer o que vivi lembrando E que farei da antiga mágoa quando Não puder te dizer por que chorei ? Como ocultar a sombra em mim suspensa Pelo martírio da memória imensa Que a distância criou - fria devida Imagem tua que eu compus serena Atenta ao meu apelo e à minha pena E que quisera nunca mais perdida... ( Oxford, 1939 ) ----- Poética (I) De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este é meu norte Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço: - Meu tempo é quando. ( Nova York, 1950 ) ----- Poética (II) Com as lágrimas do tempo E a cal do meu dia Eu fiz o cimento Da minha poesia. E na perspectiva Da vida futura Ergui em carne viva Sua arquitetura. Não sei bem se é casa Se é torre ou se

Eminência

Preencher o abandono, justificá-lo, Cuidar da renúncia, ratificá-la. Da ausência de ti, a clamante urgência: Meu suspirar, os anseios dos braços, Das palavras que não são para mim, Não me deixam dormir em reticências ...
She kind choose without choosing To live a new life away from him. She kind fears without fear To say the things he has to hear. She loves him, loves a lot, But that's not that right As it may seem. She may be dreaming with aught, But the shadow he putted on her eyes Hides whatever she may be. She loves him and he feels the same, But that's not that pretty As it should be for real. She lives only for him, since this feeling came, But his heart is too briery, Too hurt to be healed. And there comes the time That he will swear to smooth his blame: "Babe, it will not happen again, Sorry for making you cry." But his deep blue eyes, his deep blue lies, He may not be that guilty, he believes them too... But with just deep blue lies, those deep blue nights Can't be fixed anymore, with an "I love you".

Castelo de Areia

Para este advento, trago o nome de meu colega, Ernani , que uma noite ensinou-me sobre Castelos de Areia.. Vem aqui minha acepção, quase uma deterioração do que ouvi. As palavras “sonho destruído”, diante do declínio, marcaram-me, porém, é a única vez em que aparecerão aqui. Sinto-me pesada... Eu não poderia definir melhor um Castelo de Areia. Castelos de Areia são, essencialmente, Castelos de Areia. Nada mais. Necessito abrigo. Abrigo não tenho. Conforto-me então na tarefa de construí-lo, consola-me. Mas, areia tão frágil e dona de fortalezas tão tênues que o vento pode abarcar, que um pisar pode marcar, que uma palavra pode assolar.. E então o que era abrigo, mata. Sigo porém, como não houvesse outra maneira de seguir, neste ciclo de armar e tombar, de construção e queda. O que dói, mais do que assistir descambar minha labuta, é crer, toda vez, que o Castelo que construo perdurará... Sinto-o tão logo sobre meus ombros. Tenho em mim o que poderia servir-me de base, apoio para min
Vejo-os esfregando as faces no vidro cortante, deformando-as mais e mais... Clamam meu nome. Vêm e vão, caem e urram.. Como a chuva. Como esta noite, enquanto espero por ti. E essas garras.. Posso quase senti-las em mim, somente em vê-las querendo cortar, a mim... E esses olhos, ávidos, ferais, se houvesse como livrar-me deles, agora ! Ah, este meu assombro... Silenciam: não se vão, porém, se para eles não olhar, não os perceberei - então te espero... Tão somente, espero. E calo-me, pra não doer mais. Sei que vai, se não o fizer. Não vou dizer, pra não fazer sofrer...

"Por toda minha vida, eu vou..."

Confia-me tuas mágoas, despropositalmente. Promessas, amigas convenientes dessas horas difíceis assim. Fazem-nos ficar, quando devemos ir. Quando tudo o que poderia nos dar.. Qualquer algo que parecesse felicidade, levam-no para longe e, de qualquer forma, percebemos que já não é, este.. "Tal algo" o bastante. E que nunca fora. Lamentável conhecer a desventura para somente desfrutá-la, remoendo em agonia a época ignorante.
Leaving incomplete to you, This "I can't stay"; Leaving the truth intrinsic, sick, This "I must go away". It's never as it seems, Never as should be. It's never what I mean: It's never you and me. Perhaps, sir, go out Can be better, somehow. Perhaps, sir, can be an absurd. Perhaps, sir, it's a funny word.
Apesar de parecer tão incabível a existência de certas coisas, elas existem... E o que deveria haver, não há. Magoamos quem, supostamente, amamos. O que chamam amor há de estar equivocado (há esperança !), tão... Perecedor, tão frágil em suportar apenas algumas mágoas, alguma distância, algum enfado, algum tempo . E sucumbir após isso. Tão sujeito a findar tão mais rápido e tão mais fácil do que imaginamos, do que deveria... Ah, há, há quem diga "mal nenhum há de perdurar", porém, aquiete-se, que sua sina ditado algum há de apagar.
Eu não... Eu creio que não poderia te ajudar da maneira que desejo. E também não sei, de verdade, por que essa sombra que vem usurpando seu rosto me incomoda tanto, tanto.. Inquieta e inválida, seu vulto soturno ao meu lado esquerdo deixa-me. Essa minha impotência tão ampla e tão injusta diante do meu querer-te bem.. Dói. (Deixa-me abraçar-te ?)
"Levanta e dispara a buscar os braços Que lhe são eternamente fechados." Esta consonância ingrata, disforme, Impele-me a ti, (um) boa noite torpe. Que ilogismo, refalsear teu íntimo Numa fraude; levar os teus aos meus, Sem atinar que mentiam os teus, Sem hesitar, enganavam os meus.. ? Que ilogismo, figurar-te tão ínfimo E assim, artífice, seguir seguindo-te... {...}
I remember the time that nights used to smell like chocolate and I used to fight so hard just to have one minute with you. I spent nights awake and sleeping during my classes. I remember the songs you sent me and that used to warm my heart and how I used to feel just for thinking of you... Oh, I missed you, in every damn second. I wished you were by my side all the time. They say you must keep going, without looking to the past.. Our future was always faded to be passed. How much time we both lost... I thought I loved you with a love bigger than our constelation. I remember how hurt to find those lies and how I closed my eyes to them, to keep on, surviving. You became absent of my nights and dreams. Not that soon, but soon anyway, you were gone from my all, as a mark of coffee, that goes fading away with the turning of pages. Time goes by...
De tudo que me poderia oferecer, sempre é a sensação de ter dito algo errado que prevalece. Vinda de mim ou de você. Reprimo os lábios, agora nem sei mais o que ia dizer: não devo dizer mais nada.
   E este ócio.. Infindo ?    Quanto mais me ocupo, mais vazia fico.    Nada mais parece pouco ou muito. Nada mais parece nada (mas, quiçá tudo…). Sempre desfazendo-me de certezas e ideias habituais: até ontem pouco era pouco, muito era muito, nada era tudo e tudo não havia.    Suma: há um certo nada que agora é, supostamente, tudo. Tal perspectiva, efêmera por praxe, vem enquanto me deito e a contemplo: atordoa-me então a certeza cruel de ter-te em lembranças tênues, nebulosas, do que nunca existiu.    Sumiu com o vento para que, quando voltasse, não mais me visse por perto.
   I’m hurry.. As the soul dies, soldiers are fading inside of me,                                                                            wasting their time on me..    Blinking alone, sewing                             a swing                               of smile,                            selling me, falling, leaving in denial, faking my lies... Suddenly I'm not here. Get quiet. Go on.
I could count these flowers, I could breathe this air, Could stand the night awake, pretending to care. You propose me to fall for you, into you, But I don’t think you can catch me… So you’re soon Gone… Like an announcement of storm. You start to choke me, it’s time to go now, I start putting my feet just right out of here.. You start to blow me, I need you somehow, I start trembling and regreting to leave. It wasn't supposed to happen…
      Liberta sou – não estou.    Este cativeiro, não posso mais habitar. Porém, que não neste cativeiro, não há mais onde eu queira estar… Ao poucos, sou renegada pelo meu próprio penar.  Estou afogando-me nessas rimas convictas, inertes, gastas.. Medíocres.. Tão sós.. Tão eu, não por sua solidão – não a tenho, ela mesma repudia-me – mas por serem repelidas, primeiramente, por mim, quem deveria enlaçá-las e protegê-las.    Rogo que me atirem uma fagulha de harmonia, um rascunho de versos para poder contemplar por agora… Que me doa, pois bem. Que somente de minhas palavras preciso, dessa companhia de conforto que está sempre a desertar-me… Dessas minhas palavras que vêm sempre por outrem, inúteis.
   Eu vim com tanto a dizer.. Eu quis dizer e disse. E depois que disse, o tanto pareceu tão pouco… E agora não acho mais que minhas palavras possam mudar algo: nada mudou.    Deixei entrar o que tanto espero – e que sei que ainda demora a vir.
   “Quando eu vencer o escuro, vencerei tudo” – o que fez do conteúdo daquela noite, inolvidável.    Quando eu vencer o escuro, vencerei tudo, ganharei o mundo…. Não desfaço-me desse espalhafato incoerente, porém legítimo. Ganharia meu mundo ao não perder-me de mim mesma, todavia, também meu escuro perdeu-se de mim – luto contra o que não vejo, não sinto, não conheço. Luto contra o que não existe, um embate infindo e contra o que, portanto, não posso vencer… E não me pergunto mais, por quê.. ?   Tão perto de suas lembranças, tão longe de você…
   Dorme, anjo… Repousa longe de meus braços. Se estás melhor aí do que estaria junto a mim, fico também como estás: bem, de alguma maneira.    Estou sendo redundante: já conheces minhas palavras.    Estou cansada, podes ver ? Estou cansada. Parece tudo tão distante de minhas mãos… E desejo tanto, tanto, esse tudo…    Te espero, paciente. Dói ver-te partir, mesmo sabendo que voltas…
Homérica. Tua beleza, doce flor, é inigualável. Esfíngica. Quisera ter somente sua força, bastava-me. Lânguida. Dúvidas tuas, quisera fazê-las minhas, tomá-las. Calá-las. Em cada estrela fria deste céu opaco, reflete-se teu aspecto ímpar. Nuvens de nada, densas, tapam-lhe a alma: refúgio que só não disfarça teu brilho. Arrasta os passos, te levam pra perto, te trazem pra longe…
   Vou-me embora, embalada, embalsamada, abarcada por esta letargia, neste sonho embarcada…    Este sono anestesiado que te traz, repudio-o. Vou-me embora, não volto mais.    Por nada deixarei este sorriso pra trás, fugir de mim novamente. Talvez seja essa a única coisa da qual eu jamais desistirei.    Afasta este corpo alado, tão denso e tão vasto de mim. Quero ir embora, vou caçando os meus passos, sem os teus, sem os de ninguém, como há muito decidira fazer – não havia apenas me harmonizado.
It’s a shame we can’t talk, So I have to write for you… It’s a shame: we still in love, But too weak to get through… I guess this letter, I wrote, Cuz you pulled me away, I just wanted you closer And you had nothing to say… This silence is breaking me, If we were all we need, So we’d be happy now, Regardless people’s clouds… All that I wanna tell you: It’s a pitty I can’t sell you And get my old one back And not fall with every step, Cuz all I wanted to hear: "Oh, I wish you were here”, But you’re too afraid to fall And we’re too small at all… (05/03/2009)
Sombras em minha parede, contam-me uma história. Não posso enxergá-las realmente, mas posso ouvi-las muito bem. A chuva vem por mim, vem cantar, vem juntar-se a minha janela, a sentir as flores apressarem o desabrochar: o mundo, hoje, é mundo pra mim. As cinzas retomam seu gosto, as penas desprendem-se da escrita. Pegadas deixadas sobre folhas mortas, pegadas perenes – pegadas, somente. Os anjos retomam seus postos; as fugas, todas, já previstas por palavras que descerram portas: palavras com garras, palavras com dentes.

Aqui - Ana Carolina

Aqui Eu nunca disse que iria ser A pessoa certa pra você Mas sou eu quem te adora Se fico um tempo sem te procurar É pra saudade nos aproximar E eu já não vejo a hora Eu não consigo esconder Certo ou errado, eu quero ter você Você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza, mas não dá É como um represa pronta pra jorrar Querendo iluminar A estrada, a casa, o quarto onde você está Não dá pra ocultar Algo preso quer sair do meu olhar Atravessar montanhas e te alcançar Tocar o seu olhar Te fazer me enxergar e se enxergar em mim Aqui Agora que você parece não ligar Que já não pensa e já não quer pensar Dizendo que não sente nada Estou lembrando menos de você Falta pouco pra me convencer Que sou a pessoa errada Eu não consigo esconder Certo ou errado, eu quero ter você Você sabe que eu não sei jogar Não é meu dom representar Não dá pra disfarçar Eu tento aparentar frieza, mas não dá É como um represa pronta pra jorrar Querendo iluminar
   Posso ainda ouvir tua voz. Ver em teus olhos o brilho que tanto cobiço. Posso ainda sentir-te. Cada vez mais se vai, contudo, continuo a sentir-te aqui – todo tempo.    Mas este jardim enfermo de desconsolo, desabito. Como uma libertação, todavia hesito. Toda vida te quis – te deixo ir.    Este oceano de pássaros mortos, isento-o de mim. Esta carga.    Você se foi e neste comenos, todos os nossos instantes deixaram de existir, e eu também. Perdidos no tempo, enjeitados, jazendo exclusivamente dentro de mim, perdidos para sempre.
Heróis, príncipes encantados… Todos homens. E homens mentem.
   I was there, one year ago, lieing, faking it all. I still (do we ?) have some blemishes of those days..    One year ago sounds too little to me. Nevertheless, when I turn myself around to notice the path from where I came... Would take me much more than a year to remind, to relive,  to rescue all the memories. That was the longest year, no doubt.    It's funny that things are changing all the time, however, they always remain the same.. The view is the same, everything stills like before. The stories are repeated but everything always seems new.    I remember exactly what I was thinking, exactly one year ago. Maybe, wasn't me who thought that way. Maybe today, I'm not the person I was anymore.    I used to like to hold you. Used to tolerate mosquitoes and smell of cinnamon. I used to like you.

Arcano

   Quisera escrever teu nome… E deixá-lo junto ao vôo das andorinhas. Que ele voe e volte sempre ao meu ninho. Deixá-lo junto às flores que desbotam e renascem. Às nuvens ciganas, que chovem e deixam seus frutos e cheiros. À luz do sol, que não deixa de acompanhar-nos nunca. Ao ouro e a prata. Ao meu.    Não o mereço, porém.    Ah, meu amigo, de olhos castos, esfíngicos, cheios, redondos, como luas imensamente negras e orvalhadas.  Em seus olhos cabem o mundo. Seus olhos refletem sua alma – meu mundo. Quisera poder vê-los mais de perto…    Poderia ser mais simples agora, que não estou lidando com um engano ou miragem. Somente um paradoxo, um tangível intocável.
   Dissipou-se, simplesmente. Sem mais pretextos para desvelar-se, silencia-se este cuidado. Não deixa, porém, de existir.    Nata de um repertório dissimulado e adornado de gentilezas, calo em meu peito esta ilusão concreta de sentimentos. Se estava fadado a ser desta maneira, se me tivessem dito, eu talvez teria evitado este tão acerbo desengano. Mas os alarmes foram demasiadamente baixos…    Corta-me a garganta, a aspereza de meu ânimo. O delito fora então, meu – que crime tão grande há em crer ! Não o sinta, não, que te quero bem demais, que te quero e este querer, em mim, perdurará.

Carta – Napoleão a Josephine

   “Não passo um dia sem te desejar, nem uma noite sem te apertar, nos meus braços; não tomo uma chávena de chá sem amaldiçoar a glória e a ambição que me mantêm afastado da vida da minha vida.    No meio das mais sérias tarefas, enquanto percorro o campo à frente das tropas, só a minha adorada Josephine me ocupa o espírito e coração, absorvendo-o por completo o pensamento. Se me afasto de ti com a rapidez da torrente de Ródano, é para tornar a ver-te o mais cedo possível. Se me levanto a meio da noite para trabalhar, é no intuito de abreviar a tua vinda, minha amada.    E no entanto, na tua carta de 23, tratas-me na terceira pessoa, por Senhor! Que mazinha!    Como pudeste escrever-me uma carta tão fria? E depois, entre 23 e 26 medeiam quase quatro dias: que andaste tu a fazer, porque não escreveste a teu marido?...    Ah, minha amiga, aquele tratamento do “senhor” e os quatro dias de silêncio levam-me a recordar com saudade a minha antiga indiferença. (…) Isto é pior que todos os sup

Ritidômica

      Neologismo – ou não.    Explicaria, feita da morte, da aglomeração do que morreu. Encoberta de óbito ?    Explicaria, que não acompanha a evolução. Desprezível: abjeto e enfadonho. Substituível. Feio ?
   Sinto sua falta… Muito.  Tão pouco tempo – sinto muito a sua falta.    Sinto muito.    Escrevo por não saber falar. Não sei. Até tentei… Peguei-me treinando o que dizer, ensaiando as palavras… Mas você não veio para ouví-las. Neste zunido de vozes Ponho-me a buscar a tua… Ponho-me a buscar-te aqui. Nestas figuras atrozes Somente o vazio atua; Ponho-me a sentir-te em mim…
   Gentis palavras, como beijos de lábios apodridos revigoram lembranças cruelmente doces, sepultadas em meu íntimo. Espectros que se vêem livres para renascerem e fundirem passado em presente.    Dentro de mim, longe de tudo o que há fora, um cemitério construí para tumular minhas memórias, podendo tornar a vê-las e vivê-las quando desejasse. Porém, começo a pensar que eu nunca tive controle sobre elas (uma vez que me vêm assombrando por noites e dias, sempre que bem entendem) e pergunto-me, se assim quisesse, poderia mandá-las embora ? Poderia tirá-las todas de mim ? Livrar-me deste vasto campo de jazigos e segredos ?    Não necessariamente à meia-noite, esses fantasmas que tenho cultivado dentro de mim, em seus animalescos restos de ossos esfarinhados, vísceras expostas e artérias vazias, dilaceradas, vêm buscar-me e preencher-me de amargor e de um vazio tétrico, infindo…    Se eu procurei por isto, se eu criei cada parte de cada um deles, por que não consigo abatê-los ?
   Por este momento, não sei mais quais intuitos ainda me trazem aqui, não sei o que estou fazendo. De repente, sentir ( o que quer que seja ) me parece apenas mais um disfarce calculado, uma lâmina com o propósito de ferir.    O saber que não saberei, o que há por trás de teus olhos que não os deixa sorrir junto a teus lábios. Teus lábios… Ainda os sinto quentes próximos aos meus.    Deixa-me inquieta tal injustiça, não a de desejar sem poder ter, mas o sentir… Que me angustia, que me preocupa e me traz mágoa… Importo-me. Sozinha, permaneço importando-me.    – Teus passos articulam os meus – Teus passos quase tocam os meus. Não é justo também que uma proximidade tão íntima comporte tão disforme ausência e tão pungente distância…