O céu estava cinza porque estava nublado - pois, continuaria cinza, ainda que o filme não fosse em preto e branco -, anunciava-se a chuva... Por entre as nuvens pesadas, umbrosas como aquelas que usualmente revestem castelos mal assombrados, brilhava manso o sol, discreto. O vento fazia-se ouvir soprando frio.
   Era uma grande casa - que parecia um país inteiro, que parecia no meio do nada -, de tijolos cinza (mas, a partir daqui, as cores tornam-se contestáveis), com muitas janelas de vidro de armações brancas e adornadas. Era uma grande casa, circundada por um grande jardim com algumas árvores, alguns arbustos, alguns com folhas, alguns despidos, e pedras brancas e pretas, pequenas e grandes. Havia bancos e mesas adornados como as janelas em certos pontos do jardim... E lá estavam, em um dos cantos, sentados frente a uma mesa e sobre ela, um tabuleiro e um pedaço de papel. Cada palavra escrita era uma palavra dita por uma voz que gelava mais que o vento. As mãos tocavam-se, pelas pontas dos dedos.
   Quisera lembrar o que estava a revelar-se naquele momento, mas creio que seja algo para guardar dentro de si, em qualquer lugar onde se escondem as boas lembranças, a felicidade que não se imagina pois tem-se medo de senti-la. Guardar e saber que está ali...
   O vento justificava os trajes - já o riso, o privar-se dos mesmos. O céu impunha leve receio, prenúncio de tempestade que assusta. E como correram as horas, os anos ! A procura por abrigo desvelou-se numa atmosfera silente, na beleza de sentir sem conseguir relatar; no calor infinito de um abraço que engole o tempo, que engole os corpos.
  

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