Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2011

A Saudade das Folhas

Sobre o meu barco ancião, junto às árvores tortas, Venho sofrer o outono da alameda. Há um ranger enervante e bom de folhas mortas na paisagem finíssima de seda. E estende-se a meus pés a tristeza de tudo que fui, que foste, do que sou, do que és... E as árvores também têm, no chão de veludo, a saudade das folhas a seus pés... Guilherme de Almeida
   Obrigada por esta felicidade. Por todas as vezes que me disse "boa noite". Por todas as suas palavras, absolutamente, todas as suas palavras.    Lembrar você deixa... Tudo bem. Estranho, perigoso . E logo passa. Lembrar você te faz estar aqui. Lembrar você é adormecer, lembrar você é acordar. É escrever essas porcarias clichês e apagar, com vergonha e medo de mim - e então me sentir culpada pelo meu silêncio de aparência ingrata e deixá-lo rir-se com minhas tolices. Lembrar você é abraçar-me a um post it azul colado em minha carteira. Lembrar você é ouvir qualquer música brega e ruim e sorrir. Lembrar você é saltar assim e ficar muda - porquanto vivo agora os sonhos que sonhei escrevendo.
   Das vezes que você se sentou ao meu lado e me contou o que sentia, eu sofri sua agonia, eu senti meu coração querendo saltar pela boca quando ele segurou tua mão, eu senti raiva (muita raiva, por vários e certos motivos) dele. E agora, eu percebo, eu nunca senti sua preocupação... Nunca queimou em mim o seu amor por ele. Tudo o que senti e vivi, enquanto te ouvia, foi espontâneo, foi natural, mas, somente parando pra pensar eu posso saborear, uma parcela insignificante - mas é o que posso - do seu sentimento. Agora, agora sim, paro para vislumbrar o seu amor e deixá-lo doer em mim. Sabe que eu percebi sua importância depois de querer retalhar aquele que lhe fez chorar ? Foi tentando enxergar as coisas pelos seus olhos verdes... E me maravilhando com isso.    Acho que os julgamentos estão fadados ao erro. Devo dizer, a pessoa mais incrível que eu conheço é essa garota de beleza e índole incontestáveis (ainda que você discorde)... E, ao nosso primeiro contato, tive medo de você. A es
   Anoitceram estrelas cadentes sobre árvores vestidas de inverno, árvores despidas de lua... E as criaturas sorturnas, exauridas a tragar a própria essência, profetizam o álgido fervor da próxima alvorada.    Vento e éter.    Obumbrando o caminho, o terreno gretado - das frinchas, armadilhas difusas, esparsas, dos que caçam para cativar, aprisionar e ver morrer, delinquentes do esperar, que imperam ordenando à noite que fique (intencionando abortar a alvorada, intencionando o findar da espera no apático conformismo cético de mudanças)... São cegos, aliás, cegam-nos: quede bravura em sucumbir diante das vãs dificuldades ? Vãs, todavia, superados os tropeços, afortalecem-se os passos que transporão abismos...    Essas dores de poeta... Ai, que nem poeta eu sou ! Essas dores que querem sempre esperar e esperam comigo, desde meu nascimento... Ainda que a expectativa desagrade, ainda que erga-se lânguida... Espero, desejando o porvir - aprendi.    Eu trago os ventos do sul e do leste,
Eu não quero acostumar-me a lamentar o silêncio, a relevar tua ausência, saciando-me das memórias, Ou começar a calar-me e ter assuntos apensos, namorar minha descrença, e desejar ir embora... Então, se eu emudecer, (vulgo: se eu enrubescer), se eu fizer perguntas bobas, se as rimas soarem tolas É por querer, todo dia, fazer crepitar um beijo, adornar um verso leigo numa exclamação festiva

Prognóstico Boçal da Desunião de Corpos

   Adeus, adeus mil vezes ! Eu quero morrer de tristeza - quando eu perder você.    Adeus ! Pois o despedir torna a nos ap(a)ertar em um abraço do que resta de nós, um enlace missivo a desfazer-se sempre, alimenta-se mais e mais da distância e nutre essa flama, esse nódulo que nos sufoca na candura de um "até mais"... Para deixar-nos após, unidos e saudosos até os ossos e eternamente inseparáveis (até a tarde arredar).   Pela última noite inacabada, não sou mais digna do alumiar da lua que, mesmo, nunca me trouxe muito além de algo para rasgar e resmungar "ruim demais"... Ah, sua déspota da felicidade ! Mil vezes nos afaste e mil vezes voltaremos !    É certo, minha inclinação ao erro, e às dores, fazem de mim algo questionável... Pois, separamo-nos ? Separamo-nos, uma única vez que seja ?
   Estes flagelos acompanhando-me... Ah, eles silenciam, eles silenciam sim - só de pensar, meu querer te conduz, te busca... Eu realmente não estou sentindo (muito) os quilômetros que minhas olheiras insistem em percorrer.    Um murmúrio para acalmar os ânimos. Duas ou três palavras - e apago. E apago, portanto (e entretanto), cá estou, renunciando à humanidade; desletrada, descerrando-nos, desvendando-nos. Mirando-nos, meu enlace de poesia... Não possuo mais palavras - regando apenas, carregando apenas, devaneios, memórias imaginativas... Céus, que é este rubor a me calar ? A Um Passarinho Para que vieste Na minha janela Meter o nariz? Se foi por um verso Não sou mais poeta Ando tão feliz! Se é para uma prosa Não sou Anchieta Nem venho de Assis. Deixa-te de histórias Some-te daqui! Vinicius de Moraes

"Hoje que estou só e posso ver"

Bem, hoje que estou só e posso ver Com o poder de ver do coração Quanto não sou, quanto não posso ser, Quanto se o for, serei em vão, Hoje, vou confessar, quero sentir-me Definitivamente ser ninguém, E de mim mesmo, altivo, demitir-me Por não ter procedido bem. Falhei a tudo, mas sem galhardias, Nada fui, nada ousei e nada fiz, Nem colhi nas urtigas dos meus dias A flor de parecer feliz. Mas fica sempre, porque o pobre é rico Em qualquer cousa, se procurar bem, A grande indiferença com que fico. Escrevo-o para o lembrar bem.   Fernando Pessoa

Decalque

   O telefone desligado - assim não há nada para esperar.    Receio ter a alma pequena - somada à vocação de querer abranger todos os sonhos do mundo, tudo aquilo que não possuo - somada à predisposição de pulsar onde não deveria, em momentos que não deveria - somada à pertinácia de lastimar sempre que os juncos mais lindos estão sempre mais longe do que posso alcançar - somada à infelicidade de saber que devo calar-me enquanto vislumbro, sob um banho, este universo costurar-se em nada - somada à minha inclinação em ser Quincas, o cão de Quincas - somada à minha sina... Talvez eu morra de tuberculose, julgando ser ideia fixa.    Enfim, quem disse que a satisfação é muda ? Não, minha flor... Não busque uma acepção, entrevejo muitas lacunas... Do debate desta manhã, vislumbro a perspectiva de também buscar um indício que prove que sou forte - pra quê ?
   O nariz incomodado pelos ácaros dos livros enfermos - jazem, sufocam-se neste cubículo sem janelas, onde o sol arde em demasia -, reclama, conclama, uma brisa a afagar os ânimos... Tristes, que falharam sem consolo, assistindo as lamúrias delatoras de que são insuportáveis por... Inspirarem, expirarem, inspirarem... Ludíbrios...    Temporária esta transfiguração ? Interina, ou... Ai, inteiriça ? Que sustente-se lânguida, até sucumbir, com estas tênues linhas de senso, pois quero que torne a ser o que fora - pois este meu íntimo desconheço.    Há neste céu abrangente, cingidor (de dores) de espinhos e olhares e confinador de enlaces, um ar missivo, um tom de quem está sempre a se despedir... Há neste céu o findar dos alentos que julguei... Ser.  Busco, quem cuidou que este céu despontasse ? Busco a quem, que não a mim ? Que enquanto mirava, pasma, o quanto meu eu transfigurou-se silente e repentino, perdi-me no anônimo incoerente de minha alma controversa e absconsa.    Eu tento..