Quis esfolar os dedos, rasgar a pele para poder ver o sangue. Vermelho, vívido, invadindo o mundo exterior.
Falar estava lhe causando ânsia: alguém que tanto tempo passa sem dizer nada, apenas a ouvir mentiras, quando finalmente torna a abrir a boca, fá-lo para mentir também. Deplorável.
Estava também a sentir a fadiga de acreditar, sempre, sempre, que fazer-se alguém perfeito também tornaria outrem inclinado ao gesto. Grande erro. Agora, não queria mais crer. Não queria mais rosas. Não queria mais esforçar-se e esquecer os motivos do pranto diário. Não queria mais hiperbolizar a escassa doçura de poucos gestos que lhe eram dirigidos. Queria voltar no tempo, não desfazer nada do que havia desfeito: se havia algo em que acreditava naquele momento, era que, outrora, estava mais feliz. Feliz não, descobrindo a felicidade.
Mas, que pena, largou-a. Julgando-a inútil, insuficiente, inverossímil, largou-a.

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