Embuste de um segredo que a mim sussurraram.
Um erro. Um, para enlaçar todo um acervo. Aquela nuvem apareceu designada a ser a segunda opção da garota, seu passa-tempo.
Ela, a garota, nunca mais devia deixar-se envolver em sua brisa, uma vez que a nuvem, opiniosa, ironizara sua hombridade. A nuvem, entrementes, não devia nunca mais plainar sobre aquela menina, que se divertia com cada desencontro que produzia. Mas ela continuou ali, e a garota esqueceu-se do orgulho, ainda sem saber o que queria ser: se mulher, se menina.
No fundo, elas não se mereciam. À menina não valia experimentar mentiras tão boas. Ela não merecia algo tão aberto à devassidades. Também não merecia tanta atenção, tanta doçura, tantas palavras que ela sempre sonhou, sem saber, em ouvir. Cabia naquela bruma todo seu bem e mal, era um primor dualista que, por sua vez, não merecia, simplesmente, alguém tão vulnerável e tão delicadamente ingênuo. Não merecia a frieza e o desprezo daqueles gestos calculados para prendê-la, e não merecia ser curativo de ninguém.
Quando elas se perderam ? É difícil apontar, mesmo observando exteriormente. Elas não dizem, pois não sabem também. Num dia, a garota esqueceu-se que era ela, e esqueceu quem era a nuvem. E não virou o rosto quando a pequena soprou sobre ele, veludosa, impecavelmente bruma. E esta nuvem nunca soube quem a menina era, mas a imaginou tão bonita, tão bonita... Sem saber, entretanto, que estava acompanhando uma metamorfose que ela, ela havia incentivado, havia feito começar.
Quando a menina se lembrou, enfim, soprou pra longe aquela nuvem perfumada. Acordou assim, de repente. Lembrou-se de quem era. Lembrou-se de quem queria ser e foi além, ao afugentar aquela nuvem. Foi uma mulher, uma mulher vazia, tão vazia, que tornou a ser menina, pra poder perdoar-se por maltratar aquela nuvem, por ter se tornado tão "não ela mesma". Pobre nuvem, mal-nascida. Pobre nuvem que se foi sem deixar sol, sem deixar estrela. Deixou um azul feio, imaginem ! Deixou doces lembranças de seu aroma que a menina deseja não lembrar, pois a lembrança dá a ela uma angústia, um sentir que errou. Que mal havia naquela nuvem, afinal ? Pareciam felizes nas lembranças e o maior problema era precisamente esse.
Mas nuvens não ouvem chamados, é verdade. Não que ela a tenha chamado. Em segurança, longe de devaneios sugestivos, ela tentava reencontrar-se em um começo de gente, para voltar a saber quem era e do que era capaz. Descobria-se só em suas mudanças, temia a vastidão de seu âmago. E sentia falta da nuvem, mas entendia que não a merecia. E sentia falta da nuvem e, numa mágoa cheia de ternura, a perdoava por não voltar mais.
Ela, a garota, nunca mais devia deixar-se envolver em sua brisa, uma vez que a nuvem, opiniosa, ironizara sua hombridade. A nuvem, entrementes, não devia nunca mais plainar sobre aquela menina, que se divertia com cada desencontro que produzia. Mas ela continuou ali, e a garota esqueceu-se do orgulho, ainda sem saber o que queria ser: se mulher, se menina.
No fundo, elas não se mereciam. À menina não valia experimentar mentiras tão boas. Ela não merecia algo tão aberto à devassidades. Também não merecia tanta atenção, tanta doçura, tantas palavras que ela sempre sonhou, sem saber, em ouvir. Cabia naquela bruma todo seu bem e mal, era um primor dualista que, por sua vez, não merecia, simplesmente, alguém tão vulnerável e tão delicadamente ingênuo. Não merecia a frieza e o desprezo daqueles gestos calculados para prendê-la, e não merecia ser curativo de ninguém.
Quando elas se perderam ? É difícil apontar, mesmo observando exteriormente. Elas não dizem, pois não sabem também. Num dia, a garota esqueceu-se que era ela, e esqueceu quem era a nuvem. E não virou o rosto quando a pequena soprou sobre ele, veludosa, impecavelmente bruma. E esta nuvem nunca soube quem a menina era, mas a imaginou tão bonita, tão bonita... Sem saber, entretanto, que estava acompanhando uma metamorfose que ela, ela havia incentivado, havia feito começar.
Quando a menina se lembrou, enfim, soprou pra longe aquela nuvem perfumada. Acordou assim, de repente. Lembrou-se de quem era. Lembrou-se de quem queria ser e foi além, ao afugentar aquela nuvem. Foi uma mulher, uma mulher vazia, tão vazia, que tornou a ser menina, pra poder perdoar-se por maltratar aquela nuvem, por ter se tornado tão "não ela mesma". Pobre nuvem, mal-nascida. Pobre nuvem que se foi sem deixar sol, sem deixar estrela. Deixou um azul feio, imaginem ! Deixou doces lembranças de seu aroma que a menina deseja não lembrar, pois a lembrança dá a ela uma angústia, um sentir que errou. Que mal havia naquela nuvem, afinal ? Pareciam felizes nas lembranças e o maior problema era precisamente esse.
Mas nuvens não ouvem chamados, é verdade. Não que ela a tenha chamado. Em segurança, longe de devaneios sugestivos, ela tentava reencontrar-se em um começo de gente, para voltar a saber quem era e do que era capaz. Descobria-se só em suas mudanças, temia a vastidão de seu âmago. E sentia falta da nuvem, mas entendia que não a merecia. E sentia falta da nuvem e, numa mágoa cheia de ternura, a perdoava por não voltar mais.
Can the lonely take the place of you ?
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