Rasgue todas aquelas palavras, queime-as ! Cada uma delas, cuspida, trouxe consigo apatia e mágoa… Mande-as, pois, embora.

   Eu estava lá, uma folha, com o gingado do vento, e pude mirar aquele rosto irado proferir todas aquelas ácidas desgraças, num ímpeto abarcador, num gesto inescrupuloso, corroendo toda a harmonia, desfigurando a melodia, bem como qualquer outra beleza que por ali estivesse.
   Palavras venenosas, não somente lesaram, injuriaram, também profetizaram… E tão bem acertaram:
   Quando solicitado, impôs-se o silêncio, emanado das brechas que a respiração necessitava, até tornar-se absoluto. Surgiu para cuidar que o ambiente não mais fosse invadido e dominado pela exasperação e furor…
   O rosto que antes vertia ódio em chamas, calou-se, fechou-se, virou-se e atravessou a porta, como se esta fosse um portal, como quem nunca mais voltaria.
   A outra face, cujos olhos fitavam, desalentados, a parede cinzenta e as exclamações ali abandonadas, livres no ar, confrontando-se umas com as outras, com o teto, com o chão; essa face umedeceu-se. Enrijeceu-se na fadiga de tentar esquecer a surra verbal recebida. Sucesso não obteve, nem tão cedo obterá.
   O rosto calado, que se ausentara, abalado e saturado de um doloroso remorso, foi amassar-se junto ao chão, e afogar-se em sangue.

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