Um rangido pavoroso foi emitido pela porta de madeira oca ao ser aberta. A lâmpada estava queimada.
   As janelas soltaram gritos esganiçados para melhorar a iluminação, mas pouca luz entrou. O dia estava nublado, como sempre.
   No teto branco, uma mancha amarela, uma bolha estourada, rachados, ruínas. Ah, como eu amava este lugar… Como ele se tornara esta visão tão sombria diante dos meus olhos ?
   Cada teia de aranha espelha uma memória. O cheiro, o sabor, cada sensação de como tudo costumava ser, antes de se tornar apenas lembrança, apenas passado.
   O tempo foi vagarosamente devorando as paredes de concreto. Quase não restavam telhas na cobertura. Quase não restavam vidros na janela, nenhum estava inteiro, na realidade. Poeira. Muita poeira. Pude me lembrar vagamente da cor verdadeira do piso, observando dentro do contorno deixado pelo tapete, uma vez que este foi movido para a esquerda.
   O ventilador girava manco e sem pressa no teto, ainda estava demasiadamente abafado. Seu o sopro preguiçoso servia apenas para balançar a velha cadeira, com seu “nhec, nhec” insuportavelmente inconveniente.
   Tudo permanecia lá. Não me lembrava daquele degrau traiçoeiro, disfarçado, colocado estrategicamente para rir-se dos dedos desavisados que nele eram esmagados, até que me doeu fisicamente. Perto da mesa de estudos, que, também disfarçada, só fingia ser de estudos. Era penteadeira, guarda-roupas, suporte para bagunças aleatórias… Era para tudo, tudo menos estudos.
   As paredes, todas com infiltração, descascadas, encardidas. Sua sujeira fazia-me lembrar do céu nublado que estava lá fora, de nuvens pesadas e exibidas, mesmo sem beleza nenhuma aos meus olhos.
   Meus devaneios acabaram-se com o cheiro de fumaça. Acordo, já sei: eu nunca voltei pra lá, e nem nunca voltarei, a menos que seja em sonho.

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