O que seria daquele pequeno, sem os cuidados de sua auxiliadora ?
Abateu-se, tantas vezes desacertou. Tempestades vorazes, que demonstravam ser intermináveis, o atingiram. E desta mesma forma, foi perdoado, acolhido, amparado. Sempre escorado por ela, severa como que espartana, o situava e nada em troca recebia.
Ela buscava a felicidade na felicidade dele. Ele buscava sua felicidade em outras diretrizes, em outros caminhos. Conviviam em harmonia, encontravam-se com elegante satisfação. Ele também a socorria, quando suas forças assim permitiam.
Entretanto não era sempre que ele reconhecia toda a diligência, todos os cuidados que ela tinha com ele, tantos prazeres que ela abrira mão por ele. Não era sempre e, cada vez mais, minguava sua gratidão.
Ela cobrava, pedia, implorava, quando não, exigia.
Não sei dizer o que, ao certo, acontecia, mas todas as vezes que ele tentava partir, percebia que, sem ela, estava fadado a errar por esses cantos afora. Ela o chamava de volta, na sua paciente espera, consciente de que ele regressaria, enquanto precisasse dela, errando apenas em acreditar que ele o faria para sempre; que precisaria dela, e voltaria para ela, enquanto existisse o “sempre”.
Ah, mas ela não era sua única influenciadora; a vida também o ensinou e o educou… E então, ele cresceu. E formou-se num indivíduo com pensamentos que contrariavam muito do que ela havia pregado.
Ele tornou-se adulto. Dono de vontades e opiniões próprias. E, apesar de todo o tempo e paciência que ela dedicou à formação dele, ele tornou-se diferente, totalmente diferente, em cada minúsculo detalhe, em cada pormenor… Era como se ele fizesse questão de contrariá-la.
O momento está chegando, em que ela deverá perceber que já não pode mais cobrá-lo por todo o auxílio oferecido, todo o abrigo a ele dado, e sim reconhecer o trabalho feito, o esforço que não fora em vão. O momento em que ela deverá confiá-lo à própria sorte e libertá-lo, para que ele aprenda a voar com as próprias asas, sendo o único responsável por suas quedas.
...Sua diferença é uma anomalia. As palavras repetiam-se, incessantemente. E misturavam-se, embaralhavam-se, trombavam umas nas outras, arrumavam-se despropositalmente, num eco, num grama de cheiro de fósforo, que ela não perceberia se não lhe tivessem dito. Tremiam e misturavam-se também os elementos de sua paisagem. Se fechasse os olhos para organizá-los, dormiria. Nato de motivos que ela não procurou entender, receosa, um sorriso despontou, escondido em algum canto daquele murmúrio, e os olhos piscaram mais lentamente, querendo torná-lo mais vibrante, querendo sem querer.. Agora, não era mais nada. Ali, não havia mais nada. Quede... Consciência de hora, lugar e si mesma ? Não havia... Quando perde-se assim, e quando perde-se assim ? Conhece ? Este querer não encontrar-se nunca mais.. Porém, sua diferença... Era uma anomalia.
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