Ontem à noite, sem qualquer explicação, recorreu-me uma imagem, uma lembrança de anos atrás: minha família almoçando, meu pai sentado a ponta da mesa e eu ao seu lado, tentando de todas as formas encontrar uma maneira “confortável” de posicionar a colher em minha mão. Havia alguma coisa errada, mas eu não conseguia perceber o que era. Meu pai, percebendo minha complicação, disse-me:
“Sabe por que você não consegue ajeitar sua colher ? Porque você está tentando com a mão esquerda.. Tente com a outra”.
Eu sei, não é algo muito inteligente de se lembrar e dizer (é até estranho), mas, pensar nesse almoço me fez pensar em outras situações em que a resposta era tão explícita, e eu não pude vê-la… Certas coisas são tão óbvias, que eu preciso que alguém as mostre para mim, para poder percebê-las… Isso pode ser aplicado também àquele pensamento: não reconhecemos o valor do que temos, até que perdemos…
É lamentável… Tantas boas oportunidades perdi, vivendo sempre no meu mundinho, sem prestar muita atenção nem mesmo no chão onde eu piso. Tanto penar poderia ter sido evitado, se eu tivesse me dedicado um pouquinho mais à realidade… E eu poderia ter feito tantas pessoas ao menos um pouco mais felizes... Às vezes eu me esqueço da importância que elas têm, talvez por estar acostumada com a ideia de que elas sempre estarão lá, embora eu saiba que não é assim que realmente funciona, e tenha uma certa noção de como eu ficaria, caso as perdesse.
Às vezes (só às vezes) eu me sinto uma idiota… Não vivo o momento presente, percebo isto, e fico remoendo, lamentando não ter vivido e, consequentemente, torno a errar o mesmo erro: não vivo o presente lamentando não ter vivido. É como um ciclo vicioso… Erro e, ao contrário de ter mais cautela, fico ainda mais distraída, perguntando-me “como eu deixei isso acontecer ?”, e acabo errando de novo, repetidas vezes.
É cansativo pedir desculpas o tempo todo, e é doloroso saber que eu realmente tenho que fazer isso. Culpa dói, mas é necessário, às vezes, um susto ou outro para acordar. Eu preciso. Eu devo ser como aqueles seres da Ilha Flutuante de Laputa…
...Sua diferença é uma anomalia. As palavras repetiam-se, incessantemente. E misturavam-se, embaralhavam-se, trombavam umas nas outras, arrumavam-se despropositalmente, num eco, num grama de cheiro de fósforo, que ela não perceberia se não lhe tivessem dito. Tremiam e misturavam-se também os elementos de sua paisagem. Se fechasse os olhos para organizá-los, dormiria. Nato de motivos que ela não procurou entender, receosa, um sorriso despontou, escondido em algum canto daquele murmúrio, e os olhos piscaram mais lentamente, querendo torná-lo mais vibrante, querendo sem querer.. Agora, não era mais nada. Ali, não havia mais nada. Quede... Consciência de hora, lugar e si mesma ? Não havia... Quando perde-se assim, e quando perde-se assim ? Conhece ? Este querer não encontrar-se nunca mais.. Porém, sua diferença... Era uma anomalia.
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