Alimentava-se quando ele dormia. Saciava-se de sonhos e pesadelos. Deliciosos eram todos, tornavam a noite menos negra, menos sombria. Os sonhos dele afugentavam a solidão.
   Ele vivia se escondendo detrás de suas máscaras caseiras. Belíssimas, ele iludia e era iludido. Ele fantasiava loucuras dentro de si, onde ninguém poderia ver. Rabiscava qualquer coisa secreta num papel e jogava-o fora quando se viravam. Ele demonstrava ser vários, mas não era nenhum. Ele vivia em sua rotina de aventuras monótonas, e encontrava conforto em poder sonhar, na privacidade de sua intimidade, ele era todos os “nenhuns” que não podia ser exteriormente. Ele era tudo o que ele era sem as máscaras, sem adornar-se, sem rebuscar-se, sem temer a interpretação que outras pessoas fariam sobre ele.
   Em seus sonhos e epifanias, ele era o tal. Em suas fantasias, ele era do mentiroso até o confidente, namorava com a moça que lhe servia o café de todas as manhãs, criava um casal de cães de raça, e, o mais insano: era feliz.
   Mas, como tudo, seus sonhos tornaram-se cansativos, e foram ficando cada vez mais escassos, até que acabaram totalmente. Ele agora vivia sem viajar, plantara seus pés no chão de tal forma que não podia mais tocar o céu. Seu alimento se esgotara. Ela enfraqueceu, definhou e sucumbiu.
   O fedor de morte, seu fedor, agora invadia o cômodo. E era tudo o que restara.

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