Morte

   A morte é relativa.
   Morre-se quando se vive. Vive-se quando se morre. Eu acredito que há muito mais vida após a morte, do que na vida propriamente dita.
   Lamento que seja inevitavelmente triste. E lamento que seja interpretada de forma tão errada.
   Não serei hipócrita dizendo que estou pronta para ela. Seja minha, ou de alguém que eu ame.
   Nós todos sabemos que um dia morreremos. Pode ser que amanhã, não acordemos. Pode ser que a sua ida ao supermercado para comprar leite condensado seja a última. Não entendo muito bem, mas é como se vivêssemos entorpecidos: não sentimos medo da morte todos os dias, não lamentamos a todo tempo saber que, em algum momento, nossa existência chegará ao fim. Queira ou não, viver é apenas esperar por ela, mas, enquanto vivemos, não nos damos conta disto, isto não nos incomoda, até que, simplesmente… Morremos.
   Eu acho fácil viver quando não se sabe a hora de morrer: você está vivendo e então, de repente, não está mais. Sem aviso. É um susto, é verdade, mas, é simples. Ninguém realmente se importa com um inimigo que se aproxima lentamente se ele for imbatível e, principalmente, invisível.
   Para algumas pessoas, porém, a morte aparece de forma mais… Dramática. Você sabe que a morte está perto. Você tem um determinado tempo até que sua doença se agrave e você passe a vegetar e finalmente morra. Você depara-se com a morte ao seu lado, refletida no espelho junto a você, te envolvendo, devorando o que resta de você. Você sabe que vai morrer e sabe que isso não demorará. Você tem certeza e essa certeza é lancinante por ser deveras real, é injusta, é atroz.
   Deve ser desesperador, ter os dias contados. Penso que, se acontecesse comigo, talvez eu usasse meu resto de energia para gozar de todos os prazeres mundanos possíveis, e sem nenhuma moderação. E então, eu ficaria fraca e assustadoramente perto da morte, sentaria no sofá e esperaria que ela se aproximasse o suficiente para me levar com ela. De qualquer forma, sei que não poderia ser assim tão fácil, tão simples.
   Ah… Mas, talvez, o lado mais triste não seja morrer, e sim perder alguém para a morte. Por que será que tem que ser assim ? Difícil assim ? Não consigo nem imaginar, chegar perto de entender, o tamanho da dor de alguém sabendo que a pessoa amada está simplesmente sem salvação, que dentro de um tempo definido, ela não mais viverá. Saber que está sem cura, sem esperança de viver mais do que o determinado. Saber que nada há para se fazer a respeito, apenas esperar.
   Triste não é morrer. É ver a morte. Doloroso é conseguir vê-la se aproximando vagarosamente, tendo os membros atados.

Se eu não fosse tão acanhada te daria um abraço. Não que meus abraços sejam algo além de simples abraços, não que você precise deles. Mas é melhor que lhe sobrem do que lhe faltem. Eu também te diria que tudo ficará bem, se eu não achasse que isso é uma puta hipocrisia. E eu admiro sua força e sua capacidade de continuar conseguindo sorrir.

Comentários

  1. maravilhoso nicole,mas é bem por ai...quando a gente sabe exatamente quando vamos morrer é bem mais torturante,como quando acordamos de manhã(tenho que escrever sobre isso rs) naqueles torturantes 5 minutos que vc corda adiantada pelo seu relógio biológico e sabe que TEM que acordar daqui 5 minutos,é bem mais simples que morrer,mas a questão é que o SABER das coisas nos atordoa,nos enfraquece e faz de nós inúteis.

    parabéns nick,mais um texto maravilhoso.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Saudade das Folhas