Agora que chuva é só chuva – vapor condensado que se precipita devido à baixas temperaturas – e não serve mais para romantizar o banho de dois corpos num beijo com ares de fantasia…
Agora que lua é só lua – sem letra maiúscula –, só satélite, a simples – nunca simplória – lua como a que agrada Manuel Bandeira, e não serve mais de inspiração para desencadear uma poesia, uma serenata, um verso de amor sequer…
Agora que o mar é só mar – sem sal, se assim posso dizer – e não adorna quadros e nem espelha o nascer ou o pôr-do-sol…
Agora que só ouço tiros e assovios – ouve, olvide, amor…
Agora que sou eu ? Que não versos murmurados e ignorados…
...Sua diferença é uma anomalia. As palavras repetiam-se, incessantemente. E misturavam-se, embaralhavam-se, trombavam umas nas outras, arrumavam-se despropositalmente, num eco, num grama de cheiro de fósforo, que ela não perceberia se não lhe tivessem dito. Tremiam e misturavam-se também os elementos de sua paisagem. Se fechasse os olhos para organizá-los, dormiria. Nato de motivos que ela não procurou entender, receosa, um sorriso despontou, escondido em algum canto daquele murmúrio, e os olhos piscaram mais lentamente, querendo torná-lo mais vibrante, querendo sem querer.. Agora, não era mais nada. Ali, não havia mais nada. Quede... Consciência de hora, lugar e si mesma ? Não havia... Quando perde-se assim, e quando perde-se assim ? Conhece ? Este querer não encontrar-se nunca mais.. Porém, sua diferença... Era uma anomalia.
Murmurados talvez... ignorados não. E porque não achar doçura na chuva que é só chuva ? E talvez haja beleza na lua que é só lua. E quem sabe resta encanto no mar que é só mar?
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