Abandonaria estes pensamentos, estas lembranças, estas visões de sombras nitentes.
Melhor seria se eu pudesse não me lembrar do nosso último beijo, a cada vez que cruzo aquela praça. Se eu pudesse não me lembrar que, na verdade, não me lembro qual foi, de fato, nosso último beijo.
Melhor seria se eu pudesse esquecer todo o hoje, também. Tudo o que passou, tudo o que se perdeu nessa passagem…
Pode-se omitir os sentidos frente aos outros, mas não a si mesmo. Então, melhor seria se eu pudesse, enfim, largar-me de mim, soltar-me, fugir, deixar-me… Se pudesse encontrar uma coisa qualquer, a que dirigir minha atenção ! Um nada que fosse, que me pudesse entreter, que me prendesse distante de absolutamente tudo… Uma âncora, que me segurasse longe de meus devaneios, das metáforas desajeitadas que aludem a você…
Quis, por um momento, deixar-te como me deixou: sem ponto.
...Sua diferença é uma anomalia. As palavras repetiam-se, incessantemente. E misturavam-se, embaralhavam-se, trombavam umas nas outras, arrumavam-se despropositalmente, num eco, num grama de cheiro de fósforo, que ela não perceberia se não lhe tivessem dito. Tremiam e misturavam-se também os elementos de sua paisagem. Se fechasse os olhos para organizá-los, dormiria. Nato de motivos que ela não procurou entender, receosa, um sorriso despontou, escondido em algum canto daquele murmúrio, e os olhos piscaram mais lentamente, querendo torná-lo mais vibrante, querendo sem querer.. Agora, não era mais nada. Ali, não havia mais nada. Quede... Consciência de hora, lugar e si mesma ? Não havia... Quando perde-se assim, e quando perde-se assim ? Conhece ? Este querer não encontrar-se nunca mais.. Porém, sua diferença... Era uma anomalia.
Fugir de si mesmo, desprender-se de alguma maneira.Nos sentimos impotentes quando nada podemos fazer com nós mesmos.
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