Vinicius de Moraes
Soneto de Véspera Quando chegares e eu te vir chorando De tanto esperar, que te direi ? E da angústia de amar-te, te esperando Reencontrada, como te amarei ? Que beijo teu de lágrima terei Para esquecer o que vivi lembrando E que farei da antiga mágoa quando Não puder te dizer por que chorei ? Como ocultar a sombra em mim suspensa Pelo martírio da memória imensa Que a distância criou - fria devida Imagem tua que eu compus serena Atenta ao meu apelo e à minha pena E que quisera nunca mais perdida... ( Oxford, 1939 ) ----- Poética (I) De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este é meu norte Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Nasço amanhã Ando onde há espaço: - Meu tempo é quando. ( Nova York, 1950 ) ----- Poética (II) Com as lágrimas do tempo E a cal do meu dia Eu fiz o cimento Da minha poesia. E na perspectiva Da vida futura Ergui em carne viva Sua arquitetura. Não sei bem se é casa Se é torre ou se ...