A Voz

"Então, acho que acabou", ele disse. Suas palavras ásperas me dilaceraram por dentro, como os dentes de um leão faminto dilacera sua vítima. Sua voz que antes eu ouvia sussurrada em meus ouvidos, que antes me era doce e terna, e representava calmaria e paz de espírito, que sempre me entendia e me abraçava com força, enxugando meu pranto, agora tentava disfarçar a amargura típica de todo fim, com um tom monótono, quase desprezível.
Recordo-me da primeira vez que escutei aquelas três palavras tão belas, e ainda assim tão assustadoras, ao tom da voz que eu tanto amava.. "Eu te amo".
Foi a primeira vez que eu tive certeza de que estava viva. Aquela voz de domingo de sol, de noite enluarada, voz de primavera, com cheiro de grama molhada, agora me estilhaça por dentro, lançando a mim um fogo de raiva, de traição, de incompreensão. Um fogo que gela, o fogo de um final incompleto. Um final que jamais estará completo.
Como se, não satisfeita em expressar apenas as palavras ditas, sua voz pudesse fazer valer, ao fundo de cada frase, um parágrafo a mais. Como se sempre houvesse mais além de seus pontos finais, exatamente como nesse momento, em que sua voz ía além da frase exposta, me fazendo ouvir palavras não ditas, mas muito bem expressadas.. "Eu não vou sentir sua falta".
Nada havia para ser dito, então sua voz calou-se, restando apenas o silêncio que, para mim, representava apenas a ausência do tom tão precioso, tão quente e estimulante, que agora era fúnebre, insensível e vazio.
"Eu não vou sentir sua falta", a voz dele ecoava em minha mente invadida por palavras cruas. Apenas me resta o amargo tormento daquela voz.
Ela se foi.

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