Admita o clichê de ter-se encontrado em meio a uma multidão sentindo-se, todavia, sozinho. É fato, é humano. Não creio na necessidade de possuir uma pessoa - uma pessoa simplesmente, pode ser qualquer uma. A importância deve ser dada à maneira de cuidar, à ternura proveniente da essência do ser, tantas e tantas vezes frustrada pois, deste "ser", poucos, de fato, "são".

   Pactuando, há a insatisfação: insaciedade gerada pelo "não ser", levando à repulsa consciente ou abafada de si mesmo de modo que existir torna-se irrelevante. Umas para as outras - anteriormente, para si próprias -, as pessoas tornam-se simplesmente inoportunas, sendo, por este laço, semelhantes e unidas de forma descarada, porém incapazes de perceber; incapazes em seu "eu" insosso, de serem mais que um acompanhamento pífio.

   Tal solidão não se funda em exigências, não se limita a determinado tipo de vítima. Antes que o homem fosse homem, já tinha sobre si a sombra de sua temerosa nuvem. Momentos históricos refletem a mesma em ascensão, como, por exemplo, meados do século XIX. Personalidades diversas, e multidões de anônimos revelam-se peças frágeis e dominadas.

   E mesmo tão ordinária e tão antiga, tão soberanamente presente nos instantes silenciosos, como defini-la ? A vicissitude dos gestos, das situações, interferem: para cada ser e cada caso, uma causa. Assim, amorfa, não há probabilidade de defesa; como uma ferida já intrínseca em entranhas imaginárias a fundirem-se como reais. Os recursos de domá-la satisfazem apenas temporariamente a lacuna peculiar do "ser" humano, na inadaptação persistente de seu eu ao meio.

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